EDM, Paçoca e Aventura – Uma Noite com Gran Fran

Fotos: LEANDRO FURINI | Texto: JOE BORGES | Gran Fran: FRANCISCO BORELLI

Em 21 de Outubro, o Dia Nacional da Alimentação na Escola, em 1989, às 23h30 e no Hospital São Luiz, em São Paulo, nascia Francisco Borelli. Morador do bairro da Vila Mariana desde seu nascimento, frequentou diversos colégios, acumulando vacilos juvenis, advertências e mal-criações que obrigaram seus pais a mudá-lo constantemente de instituição de ensino. Claramente desgostoso com a vida escolar, encontrou alento na música, sendo matriculado aos 13 anos num conservatório musical, onde se formou em violão erudito sete anos depois, já que sua mãe não queria deixá-lo fazer aula de guitarra. O gosto pela coisa só foi crescendo. Àquela altura, Black Sabbath, Ozzy e o metal melódico dominavam seus ouvidos, num perfeito casamento com seu físico de gordinho adolescente e com seu já peculiar senso de humor e visão de mundo. Tomava forma uma pessoa excêntrica. Ao longo de sua adolescência e começo de vida adulta, foi acumulando alguns projetos musicais do gênero rock com seus amigos mais próximos, como o Lagosta Tóxica e o Japanese Bondage. Em ambos, agraciava o público com suas notas graves de baixo, flertando fortemente com o lisérgico stoner rock e vertentes desérticas. Mas, em 2010, tudo mudaria abruptamente quando, ao frequentar festas de música eletrônica na noite paulistana, acabaria tomando imenso gosto pelo estilo, o que faria com que o baixista de róque Francisco Borelli digivoluisse para o dj e produtor de música eletrônica Gran Fran.

Na noite do dia 20 de Abril, numa quarta-feira véspera de feriado, os zasos Joe Borges e Leandro Furini, responsáveis pela matéria que estás a acompanhar, se reuniram num Habib’s próximo ao metrô Ana Rosa para se alimentarem e decidirem com mais ênfase como abordar a vida e obra de Gran Fran. Com esfihas que trouxeram clarevidência e esclarecimento às suas debilitadas mentes, partiram em direção ao prédio em que reside o nosso herói, a menos de três quarteirões do local. Ao chegar à portaria, foram recebidos efusivamente por Francisco, a relação entre o disc jockey e produtor musical com os zasilhas é de longa data, são amigos desde o fim da adolescência, com inúmeros camaradas em comum e aventuras juvenais juntos. O apartamento em que vive, junto com seus pais e sua irmã, é de um aconchego gritante. Logo na entrada, pôde-se observar estantes recheadas de livros, quadros de pinturas místicas remetendo à cultura oriental, símbolos religiosos hindus e uma série de penduricalhos de carisma imensurável. O quarto de Gran Fran, por outro lado, já segue uma linha mais minimalista, sendo compacto e formado basicamente por uma cama, um armário, alguns quadros e uma bancada com todo seu aparato de produção musical. Um verdadeiro recanto do guerreiro. Devidamente aconchegados, começaram a conversar sobre seu início de carreira na música eletrônica.

04050103Em meados de 2010, Francisco começou a frequentar o meio da música eletrônica, incentivado por seu amigo e organizador de festas Kim Figueiredo, vulgo Dj Kimzera, que era o responsável por alguns eventos do gênero. Fã da música parruda, se impressionou com a sonoridade de artistas como Skrillex e Zedd, o que fez com que seu conceito sobre música eletrônica, que até então girava em torno de camisetas pólo, sapatênis, puta rolê top, man, nargas, pigas, champas e playboyzices em geral, caísse por terra. Havia todo um universo que nunca havia percebido. Absorvendo o que toda aquela novidade estava lhe dizendo, se deu conta de que tinha a capacidade de se tornar um disc jockey muito melhor do que grandessíssima parte daqueles que comandavam as festas que ele estava frequentando. Logo, baixou um programa de produção musical e começou a fuçar-lhe, sem demorar muito a sacar seus pormenores. O próximo passo foi comprar uma controladora digital, cartada essencial para que o embrião de Gran Fran começasse a se formar dentro do absorto Francisco Borelli. Sem ganhar absolutamente nenhum centavo com sua banda da época, o Japanese Bondage, e com mais vontade de tomar um coice nas sacas do que de conseguir um trabalho comum, nosso herói passou a se empenhar em conseguir sua primeira aparição como dj nas festinhas jovens da noite paulistana. Em cerca de um mês, Kim, o mesmo que lhe introduzira no meio, lhe arrumou um espaço numa festa chamada House Party, que ocorreu na região da 13 de Maio, no Bixiga. Rapidamente, ele e seu amigo passaram a fazer projetos juntos e alguns dólares começaram a brotar em sua conta. Na época, além de tocar e gostar de uma vertente completamente diferente do gênero em relação a hoje em dia, ainda não tinha tanta mão para a produção musical, cenário que viria a mudar drasticamente de 2012 para frente. Como mero mortal que é, e ainda se apresentando como Francisco Borelli, apenas montava suas playlists bem compostas por outros artistas polifônicos e as semeava aos ouvidos dos presentes nas festas. Não só sua qualidade e facilidade para dj começaram a chamar a atenção, aos poucos algumas atitudes e peculiaridades de Francisco passaram a vir à tona tornando-o cada vez mais notável.

A partir de 2012, nosso herói começou a se aventurar na criação de músicas de maneira mais séria, entrando de cabeça na produção musical, cerca de dois anos depois de sua primeira aparição como dj, que vinha se tornando cada vez mais constante. Naquela época, seu quarto, quartel general de suas criações, tinha cerca da metade do tamanho que tem atualmente, Francisco precisava fazer suas canções em seu laptop deitado na cama. Isso a Globo não mostra. Já adquirindo confiança suficiente para deixar seu nome de batismo de lado, resolveu assumir a alcunha artística de Gran Fran. Mas por quê esse nome? Perguntou-se o internauta. Em tempos muito mais juvenis, Francisco ganhou de uma amiga próxima algumas tatuagens, servindo de cobaia para seus rabiscos. A tatuadora propôs para Chiquinho que tatuasse os dedos, o mesmo gostou bastante da história mas não sabia exatamente o que poderia preencher o espaço. Entusiasta do game de estratégia Age of Empires, tinha uma piada interna entre seus amigos e sua irmã, que era a de chamar uma série de coisas diversas com o prefixo “grã”, em alusão à “grã-bombarda”, uma espécie de canhão que o jogo disponibilizava para o jogador, sobretudo se referindo a coisas imensas, como, por exemplo, cigarros de artista que eram comumente vistos a poucos metros, e até mesmo centímetros, de Francisco Borelli. Sua irmã então lhe deu a idéia de escrever Gran Fran nos dedos, sendo imediatamente acatada. Em dúvida sobre seu nome artístico, bastou olhar para os punhos fechados para que uma epifania viesse abençoar sua mente: aquele seria seu novo, e repleto de carisma, nome artístico. Gran Fran, assim como uma infinidade de seres humanos, tem um ponto fraco, seu calcanhar de Aquiles. Esse local/situação/mazela diz respeito a ser chamado de Dj Gran Fran. Se você não quer ver a ira de Francisco, sequer pense em colocar a abreviação de disc jockey em frente a seu nome, ato que lhe causa gigantesco asco. É extremamente comum que acabem por quebrar esta regra, sobretudo na hora de colocar seu nome em flyers e convites para festas. Em certa feita, quase se descabelou quando uma revista teen, que fez uma matéria sobre ele, escreveu seu nome como Dj Granfran, cometendo dupla infração. Independente de mal-entendidos nominais e cagadas editoriais, ali estava, confiante, bom vivão e em plena forma: Francisco Borelli, agora oficialmente Gran Fran.

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Grande Francisco pilotando a nave.

Os três jovens conversavam no quarto, o assunto ia se desenrolando de maneira extremamente fluída, porém, como o tempo não pára, já dizia o poeta, Gran Fran precisava se agilizar, afinal, iria discotecar suas canções em uma balada da notória Rua Augusta. Pegou seus pendrives e seu headphone, seu kit para a guerra, passou perfume nas bochechas (milenar técnica para cativar o sexo oposto) e partiu em direção à noite paulistana.

Como parte de seu ritual, era essencial passar no bar de esquina de sua casa, onde estudantes universitários e de cursinho enchiam a raba de cachaça, para tomar uma dose de tequila e comprar um maço de cigarro. Gran Fran praticava este hábito religiosamente toda vez que saía para tocar. Como não poderia deixar de ser, os zasos acompanharam o protagonista e entornaram uma dose de Jose Cuervo como se não houvesse amanhã. A sensação era a mesma de girar a chave na ignição. Saindo do tal bar, passaram numa famosa rede de supermercados para adquirir um poderoso item a fim de concluir a trilogia de compras: uma caixa de paçocas.

0607Gran Fran é conhecido pelos mais próximos, e por pessoas que não estão tão perto assim, como sendo detentor de um afiado senso de humor deveras dadaísta e aleatório. Há cerca de um ano e meio atrás, surgiu um hábito que mudaria os rumos da música eletrônica brasileira, e quiçá mundial, para sempre: o de jogar pacotes de paçoca, mais precisamente da marca Paçoquita, em direção ao público que presencia suas discotecagens. Rapidamente, o ato acabou criando adeptos em diversas festas, o momento da tacada de paçoca se tornou aguardadíssimo. Diferentes técnicas e maneiras de executar tal atitude começaram a ser desenvolvidas e aprimoradas, chegando a um nível de maestria grande. Conhecido também como Gran Franhoto, por conta de empolgados “saltos ornamentais” ,como o mesmo descreveu, chegou até mesmo a distribuir paçocas durante tais peripécias, tendo como principal influência filmes de kung fu antigos e super-heróis decadentes. A relação entre Gran Fran e Paçoquita ia se estreitando com cada vez mais afinco, chegando a um ponto de afeto imensurável, uma atitude extrema tinha que ser tomada em relação a isso. Um dia, Francisco, cansado de pagar de seu próprio bolso pelas pepetas de amendoim, resolveu mandar um e-mail para a marca de paçocas que tanto lhe apetecia, clamando por um patrocínio. Sem esperar absolutamente nenhum retorno, voltou a viver sua vida de cidadão paulistano, sonhando com  a possibilidade. Foi então que, três dias depois, resolveu abrir sua caixa de entrada do correio eletrônico e lá estava a resposta de ouro. Era inacreditável, a Paçoquita realmente se compadeceu da situação de Gran Fran e resolveu presenteá-lo com uma homérica quantidade de paçoca. Alguns dias depois, de fato três caixas com o acepipe foram entregues em sua casa, seu quarto mal tinha espaço para comportar tamanha overdose de amendoim. A partir daí, grandes momentos envolvendo nosso herói e paçocas ocorreram, como, por exemplo, quando um funcionário da limpeza de um dos lugares em que o disc jockey tocou achou uma paçoca dentro do lustre do local, quase entrando em falência múltipla de órgãos. Em outro notório episódio, Gran Fran conseguiu acertar um pacote de paçoca dentro do copo de catuaba duma pobre garota, sujando-a completamente, sendo inclusive contactado por ela a respeito. Aliás, em se tratando do assunto, suas peripécias paçoqueiras sempre funcionaram excelentemente bem como chamariz para puxar conversas com simpáticas senhoritas, infalível. Ao chegar na mirrada cidade de Teixeira de Freitas, na Bahia, para se apresentar em um Festival, foi ovacionado pelo público que gritava “Paçoca! Paçoca!” incessantemente, para seu espanto. Toda vez que jogava paçocas em direção ao público, as pessoas se acotovelavam como pombas sedentas por alpiste, uma cena comovente. Neste dia, Gran Fran teve consciência do poder folclórico que seus atos excêntricos envolvendo Paçoquita estavam tomando. Mas como todo carnaval tem seu fim, como diria aquele cara bunda murcha do rock pau molenga nacional, seu estoque de paçoca, que parecia ilimitado, começou a acabar. Assim que cessou em existir, deixou muitos órfãos por toda a naite paulistana, e brasileira, o hábito de tacar paçocas viria a perder força. Porém, o estrago já estava feito, e Gran Fran já tinha ganhado a simpatia de milhares de pessoas com todo o carisma envolvido nos arremessos de quitute. Até hoje, e sem previsão para acabar, nosso herói recebe inúmeras mensagens de apoio, incentivo e motivação para continuar a sua missão. Apesar de sentir falta de seu estoque magnânimo de Paçoquita, viu nesse cenário a oportunidade de se desvincular levemente de sua sina, de certa forma preocupado com que a excentricidade acabasse por se sobrepor em relação à sua música e suas habilidades como dj e produtor musical, fato que pareceu não se mostrar necessariamente real, visto que seu reconhecimento transcende qualquer paçoca arremessada no lustre e seguida de cambalhota. Como exemplo, utilizou Steve Aoki, conhecido na música eletrônica por jogar bolo em seu público, mas não por isso desmerecido em relação à sua indubitável qualidade musical.

Prosseguindo em sua missão, adentrou a estação de metrô Ana Rosa enquanto dissertava sobre suas experiências para os interessados e fascinados zasolhos. As 23h iam se aproximando e ele tinha compromisso com o Tex, recinto megalomaníaco localizado na Rua Augusta, que alia balada, drinks caros, média de idade alarmantemente baixa, boliche e sinuca. Já pegando o gancho do assunto peculiaridades, que vinha sendo o carro chefe da conversa, Gran Fran causou algumas polêmicas dentre uma parcela dos admiradores da música eletrônica nacional, levando à ira eruditos, caga-regras frustrados e sentinelas da vida alheia, que cismavam em prezar pela pureza da cena. Zuão que é, há cerca de um ano e meio atrás, resolveu pregar uma peça no público de um abarrotado Festival, quando interrompeu uma música de forma repentina e soltou um sample do famigerado bordão mulambo “pegadinha do malandro” cunhado pelo excelentíssimo Sergio Mallandro. A reação do público foi de diarréia mental, muitos sequer se recuperaram completamente do ocorrido. Como bem observado no link acima, uma abençoada alma filmou o ocorrido, que foi postado por nosso protagonista em seu perfil das redes sociais. Não demorou muito para que a informação chegasse aos ouvidos, olhos e corpo nú de Sergio Mallandro, que inclusive esbanjou simpatia comentando o ocorrido, também nas redes sociais. Aos poucos, Gran Fran ia irritando aqueles que prezavam por levar a cena extremamente a sério e colocavam uma película blindada de chatice crônica sobre ela. Sua missão, evidentemente, seria a de brocar essa cagação de regra e trazer sorrisos e lágrimas de emoção até seus fãs. A atitude foi reprovada em algumas baladas e Festivais, que apesar de não condenarem seus atos de paçoca, condenavam veementemente suas intervenções de glu-glu ié-ié. Nada que abalasse suas estruturas emocionais.

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Em direção ao trabalho.

0910De um ano para cá, fica evidente a evolução das produções musicais de Gran Fran, que, segundo o autocrítico autor, finalmente passaram a estar competitivas do ponto de vista da indústria polifônica, chegando a figurar em importantes listas de tops da semana e afins, como a da respeitada Beatport, espécie de iTunes da música eletrônica. Mas, se engana quem achou que foi fácil, e que as coisas aconteceram apenas de maneira natural. Efusivamente, Gran Fran adotou uma postura de divulgação de seu trabalho agressiva e brocadora, tentando por muito tempo adentrar o universo de uma das gravadoras internacionais que mais lhe apeteciam: a Digital Empire. Depois de mandar ao menos cinco músicas de sua autoria para a gravadora, não obtendo resposta, num intervalo de um ano, utilizou o fato como motivação para buscar seu auto-aprimoramento com bastante afinco. Como quem acredita sempre alcança, já diria um mendigo com babinha branca no canto da boca, há cerca de um ano finalmente chamou a atenção da gravadora, que passou a enxergar o seu valor e a divulgar o seu trabalho, representando assim um marco de conquista para Gran Fran. Perfeccionista, é um estudioso assíduo, e agora mira gravadoras maiores e mais roludas da mesma maneira que fez anteriormente, uma abordagem que eleva seu nível musical dia-a-dia. Justamente com base nisso, é evidente que apesar de zueiras e tirações de onda, a qualidade das músicas de nosso protagonista sempre funcionarão como um escudo contra seus críticos, validando suas atitudes dentro do meio.

Os três mosqueteiros iam descendo a Rua Augusta, que, abarrotada, estava vestindo a carapuça da véspera de feriado. Com ainda meia hora de gordura para sentarem em uma mesa torta e tomar uma gelada, resolveram ir ao lendário, glorioso e popular Bar do China, retratado de maneira emocionauta por Zaso nesta matéria aqui. Famoso pela yakissoba, caipirinha e Brahma, o bar representa uma alternativa excelente para os amantes da botecagem. Adentraram o recinto e deram sequência aos bombásticos relatos de vida, que não poderiam cessar no auge.

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Lendas.

Recentemente, Gran Fran lançou um remix do hit Baile de Favela, de Mc João, com a intenção de atingir novos públicos e desafiar sua capacidade de se envolver com diferentes meios musicais. A atitude gerou uma polêmica ainda maior do que a causada pela intervenção de Sergio Mallandro, levando novamente alguns dos guardiões da música eletrônica e formadores de opinião à loucura. Muitos afirmaram que ele estava usando o funk como manobra para ganhar público, um ponto de vista extremamente duvidoso. Independente disto, e por outro lado, a aceitação e viralização da música foi imensa, catapultando seu projeto até níveis não antes vistos, sendo uma pedida frequente em diversos eventos que participa. Segundo Gran Fran, apesar de ser sensível às críticas, ponto que precisa trabalhar e tem consciência disso, não se arrepende de nada, se preocupando muito mais com ser quem realmente quer e fazendo aquilo que acredita, equação que muitas vezes acaba conflitando com aquela velha máxima ilusória de querer agradar a todos.

A carreira de Gran Fran como produtor musical está no auge, sem previsão de decadência, muito pelo contrário. Segundo o mesmo, está conseguindo galgar seu espaço da maneira como pretendia em seu início de produções. Suas colaborações com seu amigo e pica grossa mascarado Digitalchord foram um dos pontos altos de suas produções recentes, sendo outro indicativo de evolução pessoal eminente. Através dele, conheceu também a umbanda, doutrina que lhe apeteceu ao ponto de fazer com que ele se tornasse adepto assíduo da mesma. Ao contrário do que se vê com frequência, Gran Fran não tem a tendência a se rotular ou se prender a uma vertente específica, apesar de afirmar que flerta vertiginosamente com o house/electrohouse, flutuando de diversas maneiras e bebendo de diferentes fontes para agregar valor às suas produções musicais. Perguntado sobre música pop, afirmou que aprendeu a gostar e que costuma fazer mashups e inserções de hits descartáveis e afins para enriquecer suas batidas e agradar ao público, afinal, é uma parte importante, em se tratando de trabalho. Caguem a regra que quiserem, isto é indiscutível. Por questões de repertório, e dependendo da festa e do público que a frequenta (faz questão de fazer um rico mapeamento do mesmo), acaba tocando também músicas de outros djs e não somente suas próprias, algo que não parece incomodá-lo, apesar de projetar, evidentemente, um cenário em que possa fazer um set exclusivamente granfrante. Apenas uma questão de tempo.

O tempo ia passando, a cerveja ia adentrando o intestino e alterando as terminações nervosas. A hora de ir para o local de trabalho ia se aproximando, mas não sem antes que viesse à tona o mais polêmico e tranca-rua de todos os temas abordados: suas internações em clínicas de reabilitação. Não entraremos em detalhes neste momento pois este será o pano de fundo de uma matéria específica sobre o assunto, fique com essa pulga atrás da orelha. Mas saiba que Gran Fran, em tempos de juventude inconsequente, foi internado em algumas clínicas de reabilitação para usuários de entorpecentes, tendo fugido de maneira espetacular três vezes, com histórias que envolvem emoção e adrenalina à flor da pele. Aguarde. Pagaram a conta, se despediram de seu grande amigo oriental e subiram em direção ao Tex, que ficava a algumas quadras para cima, sentido Avenida Paulista. O local já estava deveras cheio, com seus letreiros de neon pulsantes e muita presença juvenil dando as caras. O Gran Fran chegou.

1214Já na virada da meia noite, entraram no local de grátis, sob a tutela de Gran Fran, que já se dirigiu diretamente para a pista, ao fundo do local, onde uma legião de entusiastas lhe aguardava. Enquanto o protagonista arrumava suas parafernalhas, Joe e Leandro iam usufruindo de duas obscenamente caras longnecks de cerveja. Ao pé das picapes, observavam o início dos trabalhos esperando para presenciarem o que estava por vir. Um jogo de luzes psicodélicas dançava loucamente em quadrados de luz estratégicamente dispostos no teto do recinto, enquanto os presentes, ansiosos, esperavam por Gran Fran, que expurgando carisma, começou seu show. Com um EDM de batidas fortes e pulsantes, palavras de um leigo no assunto, rapidamente percebeu-se que os presentes iam à loucura, enquanto nosso herói tranquilamente lidava com a situação. Ao lado do aparato eletrônico que usava, cedido gentilmente pela organizadora da festa, estava um artefato de excepcional importância: uma caixa de paçocas da marca Paçoquita. Como dito anteriormente, passaram no mercado para deixar dinheiro no caixa em troca da mercadoria, que seria utilizada em instantes. No meio da balbúrdia, Francisco chamou os zasos para presenciarem o arremesso de paçoca à distância. Com modus operandi fascinante, foi baixando a música lentamente para criar uma atmosfera de suspense, enquanto erguia as mãos lotadas de paçoca no ar. Com uma desenvoltura de dar inveja a um medalista olímpico de arremesso de vara à distância, lançou as paçocas em direção ao público, que erguia os braços efusivamente, num misto de surto psicótico e histeria por acepipes. O set de Gran Fran durou cerca de uma hora, ovacionado pelos presentes. Informações acerca das músicas que foram tocadas e de uma análise aprofundada técnicamente sobre a apresentação do dj e produtor musical vão ficar para a próxima, aceite a realidade como ela é. Mas saiba que paçoca foi arremessada, calando os críticos, que achavam que o sagrado ato estava extinto.

1516,51619202417paçocaO resultado da experiência foi extremamente edificante, evidenciando de maneira indiscutível todo o carinho que Gran Fran consegue arrancar do público jovem, entusiasmado e entorpecido. Ressaltando e concluindo o que já foi dito, fica claro que apesar de peculiaridades e excentricidades que acabam por incomodar bastiões e tradicionalistas da música eletrônica, o nosso herói faz absoluta questão de se sentir livre para colocar em prática suas idéias e atitudes completamente subversivas, afinal, a qualidade de sua produção musical e sua habilidade como disc jockey acabam por se sobressair anos-luz em relação a qualquer tipo de folclore. O resultado final é de um ser humano original e único, que agrega características em muito distintas para compôr um personagem que transcende o fazer sentido e o senso comum: Gran Fran.

E para você que achou que não, vai ter merchandising sim. E não, não ganhamos dinheiro para divulgar seu digníssimo trabalho, o fazemos por pura e simples admiração e afinidade. Confira o trabalho de Gran Fran no soundcloud, facebook e, caso queira mandar um beijo, um afago ou um xingamento, mande um e-mail para este endereço.

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Gran Fã
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