Numerologia de Boteco – Um Estudo Científico-Esotérico-Degustativo pela Rua Augusta

Fotos: LEANDRO FURINI | Texto: JONAS BORGES | Produção: DANIEL KUBALACK 
“Estamos acostumados a usar os números como padrão de medida, quantidade e ordem. A sua simbologia vai além, já que os números representam também qualidades.”

Liberato, Aparecida. Numeróloga e irmã de Gugu Liberato.

” O álcool é show, rapaz, é coisa boa.”

H. Romeu Pinto. Alcóolatra e admirador de Gugu Liberato.

Números e álcool são verdadeiros alicerces da humanidade. A partir do momento que surgiram, estabeleceram-se solidamente, ganhando uma infinidade de adeptos. A necessidade que os números suprem de contabilizar, medir e organizar é capaz de dar as mãos ao acachapante poderio que a birita proporciona, potencializando um ao outro numa louca dança delirante. As possibilidades com que ambos podem interagir entre si vão muito além do valor da conta do bar, da quantidade de doses ingeridas ou da eficiência que o excesso de cana tem de embaralhar números na cabeça de um consumidor assíduo.

Depois de longo período adormecida, a entidade Zaso Corp. ressurgiu como uma fênix ressacada, incumbindo nossos correspondentes de unificar a versatilidade dos números à imprevisibilidade do álcool, através de um estudo científico-esotérico-degustativo que viria a causar prejuízo financeiro e psicológico para alguns, indisposição estomacal para outros e intensa ressaca para os não hidratados, no caso, todos os envolvidos. Entretanto, a concepção de alquimias alcóolicas nunca antes imaginadas, pavimentadas por uma pitoresca utilização da numerologia, faria tudo valer a pena. 

O Ponto de Partida – Rua Augusta com a Av. Paulista 

Guiados pela já conhecida força motriz investigativa, nossos correspondentes Jonas Borges, Daniel Kubalack e Leandro Furini, com a ajuda do convidado especial e pessoa isenta Lucas Mazzoca, se encontraram exatamente às 20h30, horário de Brasília, no mais tradicional antro da embriaguez paulistana: a Rua Augusta. O misto de fartura alcóolica e decadência não deixava dúvidas de que aquele era o palco mais apropriado para a amostragem que viriam a coletar. Dúvidas pairavam no ar, havia um sentimento geral que se assemelhava muito à vontade de cagar fora de casa. No semblante de nossos heróis, ficava evidente a ingenuidade e ternura de quem não sabe o que está por vir. A ignorância é uma benção, já diria o outro. 

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Da esquerda para a direita: Jonas Borges, Daniel Kubalack e Leandro Furini. Lucas Mazzoca estava por trás das lentes para efetuar o registro. Nível Alcóolico: Nulo Santos.

A missão consistia em utilizar a tradicional técnica oriunda do Feng Shui de somar os algarismos do número de endereço de um estabelecimento e, a partir do resultado, formar um drink de mesmo valor. Por exemplo, em um bar cujo número é o 145, a bebida a ser consumida deveria custar R$10, representando a soma dos algarismos 1, 4 e 5. Aleatório? Talvez. Em seguida, uma partida de dois ou um, tradicional prática esportiva não-oficial utilizada para decidir quem vai se foder em alguma situação. O intuito seria escolher quem pagaria a conta do estabelecimento, no caso o vencedor do embate – ou perdedor, dependendo do ponto de vista. Quais casas de álcool seriam abordadas nesta empreitada ficaria a critério de nossos especialistas.

Mas qual o motivo disso tudo? Pra quê se sujeitar a esta desventura? Segundo o que a entidade Zaso sussurrou-lhes ao pé do ouvido, a ingestão destas alquimias alcóolicas traria efeitos miraculóides de natureza desconhecida. Se isso tudo era real ou apenas uma tremenda galhofa por parte do oráculo que os guiou até ali, descobririam em instantes.

BH Lanches – Rua Augusta, 1533 (1+5+3+3) = R$1203

O primeiro recinto a participar da experiência foi o popular BH Lanches, conhecido pelo trânsito intenso de clientes e excelentes coxinhas, com destaque especial para a espécie de sabor jaca. Assim que chegaram, se depararam com algumas dezenas de pessoas respirando muito próximas umas das outras, o que pode ser desconfortável em muitos casos. Enlatados dentro de um espaço de não mais que cem metros quadrados, honestos trabalhadores e embriagados cidadãos se acotovelavam para buscar seu merecido espaço. Com nossas féras não foi diferente.

A primeira atitude veio por parte de Lucas Mazzoca, que dirigiu-se ao balcão de maneira ágil e pediu um apetitoso lanche de pernil. Um ato enfaticamente aprovado por nossos correspondentes, que se sentiram orgulhosos do pedido. É muito bom ver pessoas queridas se alimentando bem. O lanche não tardou a chegar, pesando cerca de 450 gramas de pura sedução alimentícia.

O próximo passo seria decidir quem pagaria os doze reais da bebida. Uma leve tensão pairava no ar durante os momentos que antecediam o dois ou um. Os oponentes se olhavam de maneira arisca. A agressiva disputa, que duraria poucos segundos e apenas um round, decretou Leandro como primeiro escolhido. Visivelmente decepcionado com o infortúnio que a vida lhe reservou naquele momento, apenas aceitou seu destino e sorriu com o canto da boca.

Sem mais delongas e de cardápio em mãos, percorreram ansiosamente as opções, sem deixar passar nenhum detalhe. Não demorou para perceberem que não havia nenhuma bebida no valor de doze reais. Seria preciso quebrar a cabeça para armar uma combinação de tresloucados sabores. Depois de alguns minutos de intenso debate, a bebida escolhida foi uma mistura de Água de Coco Ducoco (R$4,80) e Fogo Paulista (R$7,20). A bebida foi carinhosamente chamada de Coco Paulista

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Coco Paulista.

Ingredientes:

200 ml de Ducoco
100 ml de Fogo Paulista
01 canudo dobrável
01 copo de plástico
04 pedras d’gelo

Modo de Preparo:

Com o copo de plástico devidamente aparado por um firme balcão de mármore, acrescente as quatro pedras de gelo e admire-as por alguns segundos. Em seguida, adicione os 200 ml de Ducoco e os 100 ml de Fogo Paulista, ao mesmo tempo. Insira o canudo dobrável e utilize-o para misturar o conteúdo, de maneira que o drink fique o mais homogêneo possível. Feito, é só servir para seus amigos e familiares e esperar que eles tenham uma boa ingestão.

Impressões:

O sabor açucarado, agradável e levemente enjoativo foi unanimidade entre nossos cientistas alcóolicos, que sorriam e soltavam grunhidos de satisfação a cada goleta. A refrescância do Fogo Paulista e a suavidade da água de côco formaram uma bela alquimia para o paladar, tornando a primeira experiência bastante aprazível. Do ponto de vista estético, o drink agradou bastante, sua coloração âmbar trazia maciez para a experiência.

Enquanto desciam a Rua Augusta empunhando a bebida prometida, iam dissertando acerca do que experienciaram e chegaram a tenras conclusões. Nada mal para um começo de odisséia.

 

“Refrescante.” Borges, Jonas
“Listerine.” Furini, Leandro
“Remédio.” Kubalack, Daniel

Violeta Bar & Restaurante – Rua Augusta, 1343 (1+3+4+3) = R$1105

A segunda parada foi no tradicional Violeta Bar & Restaurante, recanto da saideira paulistana, por ficar aberto até um pouco mais tarde que seus concorrentes próximos. Ainda portando o Coco Paulista, nossos heróis pararam um instante na frente do estabelecimento para finalizar o coquetel de emoções. Feito, assentaram-se nas primeiras mesas e logo foram atendidos por uma sorridente senhorita que trouxe-lhes o cardápio.

Antes mesmo de fitarem as opções de bebidas, nossos correspondentes tiraram aquele dois ou um matreiro para decidir o pagante da rodada, que acabou sendo Daniel Kubalack. Jonas, aliviado por ter se safado mais uma vez, possuía um nível de fome moderado, o suficiente para ser seduzido por alguns pedaços de pizza que descansavam na estufa do balcão. Como não costuma negar seus instintos alimentícios, contactou a atendente e foi prontamente atendido. O sabor? A tradicional mussarela, que tantas alegrias traz diariamente para milhares e, quiçá milhões, de adeptos.

A busca por uma birita compatível com o valor de onze reais já passava dos quinze minutos de duração. Nossos heróis tentavam de toda forma juntar opções que fechassem a conta, mas a situação estava chegando ao ponto da irritação. Não viram saída senão incluir artifícios não-líquidos ao drink, uma solução polêmica porém necessária. Os grandes vilões da história foram os preços quebrados que o estabelecimento teimava em cobrar, no caso R$7,30 por um Cynar, R$3,00 por um copo d’água mineral e R$0,70 por um pirulito 7Belo de frutas vermelhas e uma bala de hortelã Simonetto, daquelas que se encontra na recepção de consultórios pelo país afora. A nada ortodoxa mistura nasceu sob a alcunha de Frank Cynar.

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Frank Cynar.

Ingredientes:

250 ml de água mineral
100 ml de Cynar
01 pirulito 7Belo de frutas vermelhas
01 bala de hortelã Simonetto
01 rodela de laranja
01 copo de plástico
01 copo de vidro
06 pedras de gelo

Modo de Preparo:

Providencie um copo de vidro que comporte 250 ml de água mineral e preencha 2/3 de sua capacidade. Em seguida, adicione três pedras de gelo. Agora, com o copo de plástico em mãos, coloque a mesma quantidade de gelo nele e faça o acréscimo de deslumbrantes 100 ml de Cynar. Com serenidade, posicione a rodela de laranja em posição vertical, ao fundo do copo plástico. Na sequência, introduza o pirulito de frutas vermelhas virado com a chapeleta para baixo, de forma que o cabo fique virado para cima. Feito, insira a bala de hortelã do jeito que achar melhor. Por fim, acrescente a água ao Cynar até que o recipiente esteja completamente preenchido. Misture o drink com o próprio cabo do pirulito, como se fosse uma colher. Por fim, é hora de apreciar o resultado.

Impressões:

Como já era de se esperar, Frank Cynar se mostrou um tanto aguado, o que lhe concedeu um aspecto suave e de fraquíssimo teor alcóolico. Do ponto de visto de embriaguez, não fez nem cócegas e ainda causou um desconfortável estranhamento em todos, fruto de tamanha diluição em água potável. A utilização do pirulito e da bala de hortelã não alterou significativamente o gosto, mas trouxe entretenimento àqueles que usufruíam da bebida. Uma alegoria.

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Jonas Borges empunhando Frank Cynar, ainda com semblante saudável. Nível alcóolico: À caminho.

Como já era de se esperar, o veredicto final foi um tanto indiferente, levando em consideração a falta de intensidade que o drink ofereceu a um paladar treinado. Foi unânime a opinião que a água, o pirulito e a bala de hortelã eram intrusas naquele copo plástico e que a melhor opção seria deixar com que o Cynar reinasse sozinho e soberano, acompanhado de suas fiéis pedras de gelo.

 

“Cynar Desconstruído.” Kubalack, Daniel
“Faltou Pouco.”  Furini, Leandro
“Loucura.” Borges, Jonas

Café Augusto – Rua Augusta, 775 (7+7+5) = R$19

A terceira parada foi o Café Augusto, dois quarteirões para baixo de seu antecessor. Apesar do nome, o local é aquilo que pode-se chamar de boteco, um perfeito exemplar da categoria. Depois de caçarem incessantemente a numeração do local, que não estava fixada em nenhum local da área externa do bar, tiveram que perguntar para um funcionário de prontidão, que lhes respondeu um tanto encafifado. Os rapazes pararam do lado de fora, aparados por uma banqueta alta, de frente para um balcão com uma estufa de salgados. Em cima dele, um cardápio, que foi prontamente surrupiado para a escolha dos bebericos. Antes de mais nada, para manter a tradição, partiram para o terceiro dois ou um da noite, que acabou tendo Leandro como triste vencedor. Era o início de uma hegemonia.

A escolha do material alcóolico para formar o drink foi mais rápida dessa vez. O resultado seria um grande clássico do inconsciente coletivo adolescente, fosse para ser consumido em festas de amigos ou no estacionamento de um supermercado de segunda categoria. Estamos falando de uma dose de Vodka Skyy (R$15) misturada com um Guaraná Antarctica KS (R$4). Como não poderia deixar de ser, a escolha da garrafa de vidro KS, que – para os não iniciados – signfica King Size, foi fator determinante para o sucesso da birita, sobretudo por conta das condições ideais que apenas o vidro é capaz de proporcionar para o refrigerante. Depois de uma mistura completamente desconexa no estabelecimento anterior, nossos correspondentes resolveram jogar seguro dessa vez. O drink foi sagazmente chamado de Vodka com Guaraná.

Vodka com Guaraná.

Ingredientes:

200 ml de Vodka Sky
290 ml de Guaraná Antarctica
02 copos de plástico
08 pétalas de gelo
04 rodelas de laranja

Modo de Preparo:

Com os dois copos plásticos posicionados em firme bancada, insira cuidadosamente as duas rodelas de laranja em cada copo, intercalando-as com as pétalas de gelo. Em seguida, divida a dose de Vodka por igual entre os dois recipientes. Por fim, é hora de completar cada copo com o Guaraná. Feito, sirva um dos copos para uma pessoa física e outro para si próprio.

Dica: Dê um primeiro gole agressivo, derramando pelo menos um terço do conteúdo em suas roupas. Esse ato é visto como um sinal de respeito e satisfação pelo resultado obtido.

Impressões:

As impressões acerca do drink não fugiram daquilo que o imaginário popular já construiu acerca desses dois tão tradicionais ingredientes. Toda a amnésia da vodka aliada à brasilidade do Guaraná, formando uma comunhão de sabores que agrada alguns e desagrada outros. Tudo isso com aquele chamego proporcionado por rodelas de laranja muito bem fatiadas. O teor alcóolico estava consideravelmente baixo, por conta da dose ter sido divida em dois copos, mas, como todos sabemos, a vodka é traiçoeira e pode pegar os mais veteranos combatentes desprevenidos.

Daniel Kubalack apreciando a Vodka com Guaraná enquanto Jonas Borges se mostra um tanto arisco com a presença do drink em suas mãos. Nível Alcóolico: Pedalinho ao entardecer.

Entre nossos especialistas, a questão de gosto falou alto na hora das avaliações. Jonas que não é nada fã de vodka, sobretudo por conta de experiências pessoais que envolveram muito gorfo e perda de memória, desgostou do resultado. Daniel, Leandro e Mazzoca apreciaram com um pouco mais de afinco o drink.

 

“Guaraná com Vodka.” Kubalack, Daniel
“15 anos.”  Furini, Leandro
“Amnésia.” Borges, Jonas

Nemo Sushi Bar – Rua Augusta, 757 (7+5+7) = R$19_nemo

A cerca de seis passos do recinto anterior, parede com parede, estava situado o Nemo Sushi Bar, próxima parada. O nome claramente era uma alusão ao personagem de desenho animado homônimo, que caiu nas graças de crianças e adultos de todo o planeta na década passada. O eclético, e epilético, estabelecimento era uma delirante mistura de boteco, restaurante japonês e sinuca, tudo isso iluminado por incisivos letreiros que muito lembravam os mais gritantes bares da boêmia japonesa. Um enorme banner/cardápio de comida oriental saudava todos que passassem pelo local, chamando muito a atenção de nossos especialistas. Para completar a atmosfera eletrizante, uma luz azulada vinda do letreiro pertencente à casa de entretenimento adulto ao lado trazia um ar futurista anos 80. Um coquetel de sabores visuais.

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Daniel interagindo com a culinária oriental.

A disposição do local era muito semelhante ao do bar anterior, o que permitiu a nossos correspondentes ficarem do lado de fora, assentados em altas banquetas, propiciando médio conforto para a escolha do próximo beberico. O já tradicional dois ou um reservou novamente um duro golpe para Leandro Furini, o que proporcionou atos de chacota por parte dos envolvidos. 

Os rapazes ainda ficariam pelo menos dez minutos aguardando o enxugamento do Guaraná com Vodka, que era curiosamente liderado por Jonas, que apesar de ter deixado claro sua repulsa, estava entusiasmado no consumo. Assim que perceberam que a bebida estava demorando mais do que o planejado para ser ingerida, nossos heróis resolveram agilizar as coisas e já começar a caçar o próximo drink, que seria uma paulada.

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Antes de encarar o drink do Nemo Sushi Bar,  Jonas e Daniel enxugam a Vodka com Guaraná. Nível Alcóolico: Dr. Consulta.

Percorrendo os olhos pelo cardápio, perceberam que a situação não andava tão favorável. O jeito foi juntar duas espécimes alcóolicas que provavelmente nunca dividiram o mesmo copo. A escolha foi unir a vermelhidão do Campari (R$10) com a secura do Steinhaeger (R$9), formando uma mistura nada lógica do ponto de vista do prazer de consumir álcool. E como não poderia passar batido, houve uma geral reclamação com relação aos preços dos ingredientes, deveras elevados. Olhando atentamente para ambas as doses, posicionadas cuidadosamente sob uma estufa recheada de amortecidos salgados, o nome mais apropriado pareceu Stênio Garcia, em homenagem à série Caga Pesado, exibida pela Rede Globo de televisão.

Stênio Garcia.

Ingredientes:

150 ml de Campari
150 ml de Steinhager
04 pedras d’gelo
02 copos de vidro
01 copo descartável
01 limão
01 espremedor de limão

Modo de Preparo:

Separe os dois copos de vidro e posicione-os lado a lado. Em seguida, acrescente os 150 ml de Campari em um e os 150 ml de Steinhaeger em outro. Deixe-os descansar. Agora, com o copo descartável em mãos, acrescente as pedras de gelo. Em seguida, esprema o limão, para dar aquela amortizada na queda. Com uma dose em cada mão, despeje o Campari e o Steinhaeger no corpo descartável, ao mesmo tempo. Pronto, Stênio Garcia está próprio para o consumo.

Impressões:

Stênio Garcia ficou surpreendentemente atraente. O tom vermelhaço do Campari diluído à transparência do Steinhaeger formou uma coloração magenta muito apetitosa. O limão também teve seu papel nessa aquarela alcóolica, trazendo um toque esverdeado para o drink. Já na hora do deguste, a beleza evaporou rapidamente pelos ares densos da Rua Augusta.

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Há quem diga que erguer o dedinho durante a desgustação de um drink melhora a experiência. Podemos afirmar categoricamente que neste caso não adiantou porra nenhuma.

A maneira como a secura do Steinhaeger interagiu com o amargor do Campari trouxe arregaço ao paladar. A bebida era nada menos que horrível. O desgosto foi incisivamente unânime, o pensamento que pairava no ar era: “E agora?”. Todos se entreolhavam sem saber muito bem o que fazer com aquele drink. Depois de momentos de fraqueza e dúvidas, nossos especialistas se recompuseram e, compromissados, compactuaram em tomar cada gota, sem titubear. Pela primeira vez naquela noite, o convidado especial Lucas Mazzoca bugou, tendo muita dificuldade para descrever o turbilhão de sentimentos que aquela bebida lhe proporcionou, demorando bons instantes para voltar a si. Mais um dia no escritório.

 

“Erramos rude.” Kubalack, Daniel
“Complicado.”  Borges, Jonas
“Remorso.” Furini, Leandro
“…” Mazzoca, Lucas

Lanchonete Panamericana – Rua Augusta, 713 (7 +1 +3) = R$11

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No mesmo quarteirão, se encontrava a Lanchonete Panamericana, nomeada de maneira corretíssima, visto que o local era de fato uma lanchonete, com uma pitada fortíssima de boteco-tradição, e estava localizada na América do Sul. Logo na fachada, o azul e o branco chamavam a atenção, remetendo à países como Argentina e Uruguai, também representantes sulamericanos. O nível de infiltração na parte de fora do estabelecimento era preocupante.

No interior da lanchonete, a luz baixa refletia nas paredes semi-foscas e trazia uma coloração esverdeada para o ambiente, enquanto uma música gospel claramente cantada por uma criança tocava ao fundo, vinda de uma castigada jukebox. A energia era um palmo mais baixa do que nos lugares amostrados anteriormente.

No balcão, sentada nas últimas banquetas, uma senhora que parecia ser veterana de pelo menos duas guerras mundiais olhava nossos correspondentes com desdém, falando com o olhar que eles não pertenciam àquele local. Apesar da hostilidade, nossos especialistas sentaram-se próximos dela, pedindo o cardápio e sendo prontamente atendidos pelo cansado atendente.

De cardápio em mãos, chegou o momento do dois ou um. Leandro já estava indignado por ter sido selecionado em três dos quatros bares até então, mais uma derrota seria um duríssimo golpe. Uma expectativa era lançada ao ar, a música fecálica expandia o momento para além das paredes do local. Enfim, tiraram o dois ou um e o selecionado saiu logo de cara. O escolhido dessa vez foi nada mais, nada menos, que Leandro novamente. Era inacreditável. A revolta do zasóide foi intensa, chamando a atenção das três pessoas que habitavam o bar além de nossa equipe.

Correndo os olhos atentos pelo cardápio, nossos correspondentes tiveram uma certa dificuldade para fazer a junção de bebidas, por uma carência de opções plausíveis. Depois de acalorado debate, a escolha foi por trazer o lendário conhaque de alcatrão São João da Barra (R$6) e misturá-lo à tão popular Fanta Laranja (R$5). O nome escolhido para o drink foi Carne e Miranda. Em instantes, vamos especificar o motivo.

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Carne e Miranda.

Ingredientes:

200 ml de São João da Barra
350 ml de Fanta Laranja
04 pedras de gelo
01 copo descartável

Modo de Preparo:

Acrescente as quatro pedras de gelo gentilmente ao copo de descartável. Em seguida, com não tanta gentileza, inunde dois terços do copo com São João da Barra. Por fim, acrescente a Fanta até o topo do recipiente. Conforme for tomando o drink, vá calibrando a mistura com mais Fanta. Voilá.

 

Impressões:

O primeiro aspecto que chamou a atenção em Carne e Miranda foi a consistência, que muito lembrava uma mistura de álcool e saibro, aquele tradicional piso de terra batida e granito com coloração alaranjada, muito popular na prática do tênis. Sobretudo na superfície do drink, pequenas partículas de cor laranja se formaram, inexplicavelmente, o que reforçou a impressão saibrosa da mistura. Outro ponto a ser destacado é que a espuma formada adquiriu uma densidade maior que o normal, quase um mousse. Reações químicas pitorescas estavam acontecendo diante dos olhos incrédulos de nossos correspondentes.

 

Chegada a hora da degustação, a surpresa foi maior ainda. Todos concordaram que a primeira impressão que vinha à mente depois do primeiro gole era a de gosto de carne, mais precisamente de frios, algo entre presunto copa e salame, transitando também pelo tenro universo dos defumados. O teor alcóolico era bagunçante, o que não ajudava muito aquela louca mistura a agradar os paladares de nossos heróis.

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Daniel Kubalack e Jonas Borges deleitando-se com sabores carnais. Nível Alcóolico: Gustavo Kuerten.

Apesar do entusiasmo unânime em relação à embutidos, sua forma líquida e alcóolica acabou dividindo opiniões. Leandro claramente se empolgou com o resultado, enquanto o restante da equipe estranhou deveras o drink.

Enquanto dissertavam sobre a riqueza de sabores que aquela birita lhes proporcionava, Mazzoca bugou de novo.

 

“Defumado.”  Furini, Leandro
“Presunto copa.” Kubalack, Daniel
“Frio.” Borges, Jonas

Pouco antes de rumarem para a próxima casa de álcool, um homem de cerca de trinta anos de idade, caucasiano e levemente embriagado, parou na roda em que nossos correspondentes se encontravam e fitou Leandro com força, beirando o flerte, dizendo que conhecia-o. Estranhando a situação, Leandro afirmou-lhe que achava que não. O homem insistiu por alguns instantes e, provavelmente se sentindo pressionado pelos olhares dos envolvidos, apenas despediu-se e foi embora.

Leandro instantes depois de ser abordado por um homem que afirmou conhecê-lo. Confuso, negou veementemente.

Esse bizarro encontro foi uma excelente maneira de se despedir da Lanchonete Panamericana. Carne e Miranda ainda estava praticamente cheio quando nossos heróis foram embora em busca da próxima aventura. Que loucura lhes aguardaria dali para a frente? Ainda eram 22h15, horário de Araçatuba, e a noite lhes guardava desafiantes embates alcóolicos.

Lanchonete Cuca Real, vulgo Bar do Vavá – Rua Augusta, 699 (6+9+9) = R$25

Na tradicional esquina da Rua Augusta com a Antônia de Queiroz, estava o simpático Bar do Vavá, cujo nome científico é Lanchonete Cuca Real. O ponto alto eram as mesas de plástico postadas na calçada, com uma excelente vista para o caos. Como não poderia deixar de ser, nossa equipe assentou-se, ainda com Carne e Miranda em mãos. Praticamente só Leandro consumia-a. Assim como o Café Augusto, o local mantinha sua numeração oculta, inviabilizando um registro fotográfico e obrigando nossos correspondentes a perguntá-la para o solícito atendente.

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Lucas Mazzoca tirando um lazer na área externa da Lanchonete Cuca Real, a.k.a Bar do Vavá.

Depois de cerca de dez minutos do lado externo do recinto, entraram e acomodaram-se ao pé do balcão, recheado de duvidosas guloseimas, tais como torresmos, linguiças aceboladas e ovos coloridos. Observando a decoração, perceberam um pitoresco detalhe: havia uma placa de sinalização de uso preferencial cujo pictograma mais parecia um homem sentado portando uma ereção. Conhecidos pela maturidade, nossos correspondentes gargalhavam incessantemente com a descoberta feita por Daniel Kubalack, cujo humor fálico/sexual é deveras afiado.

Portador de um humor refinado e fálico, Daniel mostra a suposta ereção do pictograma.

Em meio à intensa galhofa, soou o alarme entre nossos especialistas: era chegado o momento do dois ou um. O nervosismo tomava conta de todos, sobretudo de Leandro, que precisava imediatamente de uma trégua no orçamento. Lá veio a disputa e o veredicto: Leandro novamente. A situação já beirava o ridículo. Lucas Mazzoca, em solidariedade com o amigo escolhido, prontificou-se a pagar a conta no lugar dele, que aceitou. Fé na humanidade restaurada.

Deixando de lado tanta distração e fuleiragem, chegava o momento esperado. A escolha estava feita, os ingredientes escolhidos para somar R$25, quantia mais alta até então, seriam um copo do humilde Vinho São Tomé (R$7) e uma dose da embriagante tequila Jose Cuervo (R$18). A mistura mais abastada da noite até então seria brilhantemente nomeada Tequinho, uma cretina junção entre tequila e vinho. Apesar da concorrência braba, este drink foi o que mais intimidou nossos correspondentes, por conta do poder encaçapante que a tequila possui, aliado ao altíssimo índice de ressaca oferecido pelo vinho São Tomé. Pedrada.

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Tequinho.

Ingredientes:

300 ml de Vinho São Tomé
40 ml de Tequila Jose Cuervo Blue Agave
04 pedras de gelo
01 copo descartável
01 copo de vidro
01 copo de dose

Modo de Preparo:

Posicione o copo descartável sob a estufa de salgados mais próxima. Em seguida, com as mãos muito bem lavadas, acrescente as quatro pedras de gelo ao recipiente. Com o copo de vidro e o de dose prontos e bem apoiados em firme base, encha-os até a boca, com vinho e tequila, respectivamente. Agora, muita atenção a esta parte, essencial para o sucesso do drink: de maneira descoordenada, adicione o vinho e a tequila ao mesmo tempo, derrubando apenas São Tomé em cima da bancada, desperdiçando cerca de 1/5 de seu volume. Feito, é hora de decolar dessa para uma melhor.

 

Impressões:

Apesar da presença obtusa da tequila envolvida na mistura alcóolica, Tequinho se mostrou aprazível. A proporção muito maior de vinho aliviou as tensões iniciais e ganhou a simpatia de todos os envolvidos. Apesar do apreço, todos sabiam que a conta chegaria no dia seguinte, e não naquele momento. Que traiçoeiro golpe Tequinho aplicaria em nossos especialistas, era uma incógnita até então.

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Lucas Mazzoca tirando mais um lazer, chamado Tequinho.

A bebida despertou sentimentos montanhosos em nossos especialistas, transitando entre o romance e o charme de um chalé de baixa qualidade. Surpreendentemente, o drink foi completamente consumido em tempo recorde, enquanto resquícios de Carne e Miranda ainda jaziam aprisionados em um copo de plástico, num canto da mesa. Lucas Mazzoca deleitou-se mais do que qualquer um com Tequinho, nadando de braçada nos encantos montanheses do beberico. Belas conclusões foram tomadas.

 

“Monte Verde.” Mazzoca, Lucas
“Beatriz.”  Kubalack, Daniel
“Montanhas.” Borges, Jonas
“Romance.” Furini, Leandro

Patna Lanchonete & Restaurante – Rua Augusta, 677 (6+7+7) = R$20_patna

Atravessando a rua, estava a próxima parada: Patna Lanchonete & Restaurante – Entregamos em Domicílio. Antes mesmo de adentrar o recinto, a atenção de nossos correspondentes foi chamada para alguns cones posicionados na rua, cercados por uma daquelas faixas amarelos usadas para interdição. A rua estava passando por uma obra no piso, supervisionada por alguns funcionários da prefeitura que aparentavam baixíssima energia. O que aqueles nobres trabalhadores fiscalizavam era um mistério, visto que a obra estava completamente parada e claramente sem a mão-de-obra necessária para concluir aquele serviço.

Dentro do bar, a coisa que mais chamou a atenção de nossos correspondentes foi um solitário homem de meia idade, sentado ao balcão, nas últimas banquetas, e que assoviava muito alto a canção Wind of Change da banda alemã Scorpions, que tocava na rádio simultaneamente. A altura do assovio era tamanha que até mesmo os atendentes conversavam entre si acerca do assunto. O homem, claramente embriagado e com feições de quem havia sido abandonado pelo amor de sua vida, nem notou a chegada de nossos correspondentes, ele estava em uma frequência muito introspectiva e alcoolizada.

Depois de um tempo do lado de fora para tentar finalizar o drink anterior, nossos correspondentes finalmente adentraram o recinto, logo se deparando com um senhor de origem oriental um tanto andrógino, de estatura minúscula, óculos caídos ao pé do nariz e que muito parecia o Japonês do Pânico, que figurou na telinhas de milhões de lares como o personagem Arex, do quadro Jô Suado. O idoso, muito irritadiço, tentava incessantemente abrir a porta da geladeira para pegar uma lata de cerveja, sem sucesso. Daniel ao ver sua luta, estendeu-lhe a mão e abriu a geladeira pelo lado certo, concluindo a missão que o oriental teimava em tentar sem sucesso. Depois do ato de bondade, o homem disse-lhe “Ah, foda-se!” e fez uma pequena reverência, pegando sua lata e voltando para sua mesa. Daniel um tanto atordoado sorriu com doçura.

Agora assentados ao balcão, nossos especialistas decidiram seus destinos no famigerado dois ou um, que resultou na escolha de Jonas como pagante da rodada. A hegemonia de Leandro estava quebrada, para delírio do mesmo, que proferiu palavrões e fez gestos abruptos e comemoração.

Com o cardápio em mãos, chegaram à conclusão de que a melhor opção para aquele momento era pedir um tão popular Gin Tônica (R$13) e casá-lo a um tão descriminado Domecq (R$7), uma polêmica união de mundos distintos, realidades paralelas que apesar de muitas vezes dividirem a mesma estante, raramente – quiçá nunca – se encontrariam. A beleza da alquimia alcóolica chegara a seu primor. O resultado da junção foi chamado de Wind of Change da Banda Scorpions, em homenagem ao herói anônimo que eternizou-a naquele bar.

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Wind of Change da Banda Scorpions.

Ingredientes:

150 ml de Gin Seagers
150 ml de Domecq
350 ml de água tônica Schincariol
02 copos de vidro
01 rodela d’limão
06 pedras de gelo
02 copos de vidro

Modo de Preparo:

Preencha um dos copos de vidro com 150ml de Gin Seagers. Em seguida, acrescente três pedras de gelo e uma fatia de limão. N’outro copo, inclua igual quantidade de Domecq. Deixe repousar. Na sequência, abra a lata de tônica fazendo muito barulho e incomodando as pessoas ao redor e, por último, adicione a tônica e o Domecq ao copo de Gin, formando louca mistura delirante. Taí, Wind of Change da Banda Scorpions nascendo em frente aos seus olhos.

 

Impressões:

As primeiras impressões acerca dessa alquimia alcóolica não poderiam ser piores. O primeiro a experimentar o drink foi Daniel Kubalack, que logo acusou o golpe e afirmou veementemente que aquele era seguramente o maior erro da noite. Sofrendo escorado na parede, passou o copo para Jonas, que também degustou a bebida e teve reação muito semelhante, assinando embaixo da declaração do companheiro. O amargor impávido do Domecq parecia ser multiplicado pela secura do Gin, formando uma mistura intragável de altíssimo teor alcóolico. O limão tentava aliviar o sofrimento sem sucesso.

Daniel curtindo um lazer agraciado por Wind of Change da Banda Scorpions.
Jonas brindando a vida, empunhando Wind of Change da Banda Scorpions.

Como não poderia deixar de ser, Leandro e Mazzoca também dariam seus pareceres. Leandro precisou de pelo menos três goles para conseguir dar sua visão, que foi sintetizada pela palavra Shopping Center. Claramente um elogio. O gosto torpe e os altos assobios que vinham de dentro do bar turvavam-lhe a sanidade. Por fim, chegara o momento de Lucas. Depois de dar um entusiasmado gole, afirmou, sem sequer uma ruga de expressão, que achou uma delícia. A declaração foi tão contundente que causou real espanto e preocupação entre todos os envolvidos.

 

“Scorpions – Wind of Change.” Kubalack, Daniel
“Kosovo.”  Borges, Jonas
“Shopping Center.” Furini, Leandro
“Envolvente.” Mazzoca, Lucas

Enquanto refletiam sobre o impacto que Wind of Change da Banda Scorpions teve em suas vidas, nossos correspondentes passaram a experienciar uma série de pitorescos eventos.

Uma gritaria começou a chamar a atenção de nossos heróis. O que pareciam ser muitas pessoas arruaçando o fim de noite, na realidade era apenas uma mulher de meia idade, que claramente era moradora de rua, uns vinte quilos abaixo de seu peso ideal e com uma voz estridente. Barbarizando geral, ela subia a Rua Augusta desenfreadamente, chamando a atenção de todos, menos dos funcionários da prefeitura que acompanhavam a obra em frente ao bar, panguando fortemente. Quando a entorpecida cidadã se aproximou dos funcionários, eles sequer esboçaram grandes reações. Enquanto ela xingava-os, rasgou a faixa de isolamento e derrubou um grande cone laranja, que fez um estardalhaço ao cair no chão. Nesse momento, a apreensão tomou conta de nossos correspondentes que apenas fitavam a situação de longe. Conforme a mulher ia subindo a rua, se afastando cada vez mais do incidente, um dos funcionários apenas andou até a baderna, arrumou as coisas que estavam fora do lugar e olhou para nossos cientistas como quem diz: “É, faz parte…”.

Com nossos especialistas já recuperados do caos que presenciaram, um barulho de copo quebrando ecoou dentro do bar. A reação foi imediata, um chiado geral aloprava o autor do acidente: o homem que assobiava. Essa figura épica não só inspirou o drink que açoitou a vida de nossos heróis como também proporcionou momentos excelentes como esse. Sem graça, o homem apenas sorria desconcertado e procurava coletar os cacos do copo, de maneira bastante descoordenada.

Enfim, já com boa parte de Wind of Change da Banda Scorpions devidamente consumido, nossos correspondentes partiram para o último e derradeiro estabelecimento da amostragem.

Cana Brava Bar & Restaurante – Rua Augusta, 15 (1+5) = R$6

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O destino final seria o Cana Brava Bar & Restaurante, já no início da Rua Augusta, frente à Praça Roosevelt. O bar de esquina aguardava a chegada de nossos especialistas, que logo adentraram o extremamente iluminado recinto. Dentro, absolutamente nenhum cliente e apenas alguns funcionários que pareciam um tanto entediados. Nossos correspondentes assentaram-se em uma mesa alta bem no centro do lugar. Antes de mais nada, resolveram tirar alguns minutos para tomar uma cerveja antes do último drink da noite.

Para o dois ou um derradeiro, uma expectativa grande formara-se. O pagador da vez foi decretado e o resultado não poderia ser melhor: Leandro Furini. Àquela altura, ele nem se importava mais tanto, fosse por aceitar o seu destino ou por estar anestesiado pela embriaguez aguda.

De cardápio em mãos, perceberam que o jeito para completar a missão seria pedindo uma cachaça Kariri com mel. As opções eram escassas para cumprir com os seis reais necessários para formar a bebida. O drink foi chamado sagazmente de Kariri com Mel (R$6).

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Kariri com Mel, ao seu dispôr.

Ingredientes:

200 ml de Kariri
03 sachês de mel
01 copo descartável
03 pedras de gelo
01 colher descartável

Modo de Preparo:

Acrescente os dois cubos de gelo ao copo descartável e, em seguida, adicione 200 ml de Kariri. Na sequência, insira os três sachês de mel, abrindo-os antes e despejando seu conteúdo, para então misturar o drink com a colher de plástico, formando um beberico denso e de cor terrosa. Taí, feita a última oferenda da noite.

 

Impressões:

Kariri com Mel ficou parada na mesa durante um bom tempo, nossos correspondentes estavam muito mais interessados em tomar a cerveja, afim de dar aquela desbaratinada. O primeiro a degustar o drink foi Mazzoca que afirmou apreciar o resultado. Em seguida, Leandro, que deu apenas uma bitoca na bebida, já acusando que não tinha mais condições de seguir em frente com a amostragem. Aprovou o resultado. Daniel, por sua vez, praticou ato de rebeldia científica, se recusando a tomar Kariri com Mel, quebrando o protocolo estabelecido pela entidade Zaso. Vendo a indecisão dos companheiros de estudo, Jonas – em momento de insanidade mental – pegou o copo do centro da mesa e virou-o completamente pra dentro, tomando tudo em poucos segundos. A reação geral foi de espanto e indignação, um silêncio perturbador tomou conta da mesa. Ninguém esperava por uma atitude tão abrupta. Depois de alguns segundos fora do ar, Jonas voltou a si para definir a experiência com a palavra “caçarola”.

“Chega caralho!” Furini, Leandro
“Caçarola.”  Borges, Jonas
“Repulsa.” Kubalack, Daniel

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Jonas, Heineken, um teco de Tequinho e Kariri com Mel, convivendo em relativa harmonia.

E assim, nossos heróis permaneceram sentados, relaxando pós-missão e botando uma cerveja pra dentro. Assim que todos os produtos foram devidamente ingeridos, Daniel e Mazzoca anunciaram que iriam embora, batendo aquela tradicional palma de “já deu, meus amigos”. Leandro e Jonas os acompanharam até a porta.

O saldo da noite fora excelente do ponto de vista científico-esotérico-degustivo mas um tanto complicado para a saúde de nossos especialistas. O nível alcóolico da rapaziada era acima da média latino-americana, sendo que Daniel e Mazzoca ainda teriam um longo caminho até o condado de Tatuapé. Jonas e Leandro, polemicamente, cogitavam tomar uma saideira, por mais imprudente que pudesse parecer. E foi o que fizeram.

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Jonas Borges, Daniel Kubalack e Leandro Furini, reunidos mais uma vez para um registro fotográfico efetuado pelo excelente Lucas Mazzoca. Nível Alcóolico: Cuzcuz Barroquino.

Assim que Daniel e Mazzoca partiram, os dois restantes do rolê se viram na situação de achar uma casa de álcool para a saideira, visto que o bar em que estavam iria fechar em instantes. Atravessaram a rua e assentaram-se num boteco na esquina seguinte, onde consumiriam dois litrões de Skol geladaços cada um para fechar a noite. Inexplicável apetite.

No dia seguinte, a ressaca era intensa entre todos. Entre idas ao toalete e cabeças pulsantes, algumas mensagens sintetizam o sentimento geral.

 

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Jonas Borges, Leandro Furini e Daniel Kubalack no dia seguinte, utilizando aplicativo de conversas online para dissertar sobre suas intensas experiências.

Conclusão

A amostragem que pudemos degustar trouxe uma série de aprendizados e peculiaridades. Para ilustrar isso, nossos correspondentes, após recuperarem as forças, fizeram um levantamento de alguns dados que ilustram a experiência:

Leandro Furini foi quem mais pagou contas na noite, somando um total de R$92, suficiente para comprar um Narguile artesanal feito com garrafa de Vodka Absolut;

Daniel Kubalack foi quem menos desembolsou dinheiro, com um total de R$11 gastos ao longo da noite;

• O bar com o drink mais caro foi o Bar do Vavá, cujo beberico pesou R$25 no bolso de Leandro Furini. A bebida em questão foi o encaçapante Tequinho;

• A casa de álcool com bebida mais em conta da amostragem foi o Cana Brava, que cobrou R$6 pela Kariri com Mel, também paga por Leandro Furini;

• Nossos correspondentes demoraram 3 horas e 35 minutos para concluir a missão, que durou das 20h30 – horário em que se encontraram – à 00h35 – momento da despedida. Obs: Esses dados não contabilizam a cerveja pós-amostragem que Leandro e Jonas tomaram;

• O bar em que nossos especialistas mais se demoraram foi o Cana Brava, com um total de 47 minutos de presença dessa rapaziada intensa;

• Por outro lado, o estabelecimento em que ficaram menos tempo foi o BH Lanches, onde somaram 12 minutos de estadia;

• A versão original de estúdio da música Wind of Change da banda Scorpions tem 5 minutos e 11 segundos de duração.

• O drink mais rápido a ser tomado foi o Coco Paulista, que demorou cerca de 5 minutos para ser consumido. Quem pagou pela bebida foi Leandro, por incrível que pareça.

• O beberico mais demorado de ser ingerido por nossos correspondentes foi Carne e Miranda, que demorou cerca de 1 hora para ser completamente finalizado, se mantendo firme e forte nas mãos de nossos especialistas depois de três bares. O pagante do drink foi nada mais, nada menos, que Leandro.

• Para Jonas, a melhor bebida da noite foi Coco Paulista. A pior foi Stênio Garcia.

• Leandro afirmou que o melhor drink foi Vodka com Guaraná, enquanto o pior foi Stênio Garcia.

• Já na opinião de Daniel, a mais aprazível foi Frank Cynar, enquanto a mais detestável foi Wind of Change da Banda Scorpions.

Contrariando as promessas da entidade Zaso Corp. para com nossos correspondentes, não ficaram claros os transcendentais benefícios pessoais e espirituais que esse grande estudo científico-esotérico-degustativo teve. Mas não importa, pois a conclusão que pairou com força sob nossos heróis é de que a experiência por si só já foi de grande valia no que diz respeito à consumir alquimias alcóolicas nunca antes pensadas, presenciar momentos caóticos e produzir loucas risadas embriagadas. Chegar à essa conclusão era exatamente o que a entidade Zaso queria para nossos correspondentes.

Assíduo leitor, reúna seus amigos mais descacetados e promova esse experimento – e de preferência nos relate sua louca aventura. Você pode não atingir o nirvana ou descobrir o sentido da vida, muito pelo contrário, pode acabar largado numa sarjeta imunda próxima dos mais sacanageiros bares do centro de São Paulo. Porém, uma coisa é indiscutível: valerá a pena.

zasocorporation

Uma resposta para “Numerologia de Boteco – Um Estudo Científico-Esotérico-Degustativo pela Rua Augusta

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