ATENÇÃO: O conteúdo desta publicação não foi comissionado de maneira alguma pela instituição Posto Ipiranga. Muito pelo contrário, apenas gastou-se dinheiro.
Fotos: LEANDRO FURINI | Texto e Arte Gráfica: JOE BORGES | Produção: DANIEL KUBALACK
As dúvidas existenciais são um grande pilar da construção de nossa petulante sociedade. Garantindo o louco giro do globo, revestem o manto do ser humano como um verniz vencido. Naturalmente, dois caminhos surgiram para aliviar esse embuste e trazer respostas para as mais íntimas perguntas que pairam sobre a lomba de milhões de pessoas: a religião e o Posto Ipiranga. Tido como o oráculo dos postos de abastecimento, se disseminou de maneira viral por todo o país, marcando presença em um número cada vez maior de lugares. Com milhões de reais investidos em publicidade, a franquia britou a mente de muitas pessoas, adentrando o inconsciente coletivo com a ajuda de filmes comerciais que enaltecem seu caráter sacro-informativo. Unindo este nobre atributo que o Posto Ipiranga possui e a necessidade humana latente por respostas, Zaso Corp. resolveu tomar uma providência. Tomados pelo espírito filantrópico da ajuda ao próximo, nossos correspondentes resolveram coletar os mais íntimos questionamentos do internauta, através de um post nas redes sociais, no intuito de levar estas questões até os funcionários do posto. Além deste método de coleta, a entidade Zaso Corp. enviou perguntas psicografadas diretamente para nossos correspondentes, afinal, também tem suas questões a serem esclarecidas. A bordo do guerrilheiro Ford Ka branco do produtor Daniel Kubalack, os enviados d’Zaso Corp. escanearam as imediações do bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo, em busca de respostas. O local é conhecido pelo número intenso de franquias do Posto Ipiranga, uma verdadeira mina de ouro do esclarecimento. Importante ressaltar que Zaso Corp. não se responsabiliza pelo teor dos questionamentos dos internautas, fazendo o papel apenas de ponte entre as mais tenras questões existenciais e aqueles que tornam possível o sonho do abastecimento.
O início dos trabalhos se deu por volta do meio-dia de ensolarado sábado, no momento em que Jonas e Leandro se encontraram na catraca do metrô Anhangabaú. O próximo passo seria rumo à estação Vila Carrão, já dentro dos domínios da zona leste da cidade. Lá, Daniel esperaria-os, devidamente motorizado, próximo ao terminal de ônibus. Ao descerem na estação, erraram o lado da saída, fato esse que traria apenas dor e sofrimento, se não fosse por um excelente cartaz de propaganda, localizado na passarela do local. A imagem, que trazia elementos fantásticos como urbanização, juventude, terno, skate e foguete, renovou-lhes as esperanças. Ao darem meia volta e chegarem ao lugar combinado, viram que Daniel não havia chegado. Foi a deixa para que Jonas aproveitasse para fazer aquela boquinha, atitude que muito lhe apetece. Em frente ao local em que combinaram, havia uma grande rede de pastéis, era lá mesmo que a alimentação seria consumada. Logo na entrada, encaixado ao balcão, um grande objeto parrudo e metálico chamou a atenção, era uma choppeira Grape Cool, conhecida pela excelência em chopp de vinho. Entusiastas do beberico, Jonas e Leandro não se contiveram em pedir um exemplar cada. Durante alguns milhares de segundos, sentaram-se ao balcão. Nada de Daniel. Enquanto isso, através da alimentação, Jonas ia capturando todos os nutrientes, proteínas e poderes de um pastel de carne com queijo. Quase em sincronia com o cessar de existir do alimento, Daniel finalmente estacionou o carro do lado de fora do estabelecimento. Com as contas devidamente pagas e as pendências alimentícias resolvidas, Jonas e Leandro foram de encontro ao produtor. Era dada a largada em busca de conhecimento.

A primeira parada foi na unidade Posto Ipiranga chamada Auto Posto Pop, localizada há poucas quadras de onde nossos correspondentes se encontraram. O lugar era pequeno e espremido entre prédios, o que quebrava aquele velho paradigma do posto de esquina. Um carisma extra. A primeira atitude dos enviados, obviamente, foi garantir três latas de cerveja. Com o carro estacionado ao lado da loja de conveniência, os jovens pararam por alguns instantes para fazer a última filtragem de perguntas e acrescentar algumas indagações. Enquanto abasteciam seus corpos esbeltos com suco de cevada, um frentista abastecia os automóveis que paravam no posto. O rapaz vestia casacos pesados para um dia tão ensolarado como aquele, fato que chamou a atenção dos nossos correspondentes e talvez pudesse representar, de alguma maneira, um indicativo de sabedoria. Assim que o trabalho do funcionário deu uma abrandada, os zasalhas se aproximaram.
O funcionário dos Postos Ipiranga Jecildo, 31 anos, é nascido em Salvador, Bahia, e mora no próprio bairro do Tatuapé, próximo ao posto. O funcionário, que é corintiano e entusiasta de Raul Seixas, trabalha no local há um mês (ou melhor dizendo, trabalhava, já que nosso departamento de inteligência recebeu a informação de que o posto fechou). Perguntado se gosta de tomar uma cagibrina, franziu a testa sem entender muito bem, dizendo que na Bahia não se fala “tomar” mas sim “beber”. Em seguida, disse que gosta de beber de tudo. Em se tratando de Posto Ipiranga, afirmou que é bastante comum que transeuntes e motoristas façam-lhe perguntas, mais relacionadas a nomes de ruas e localizações. A par dos questionamentos que seriam feitos pelos zasalhas, Jecildo se manteve tranquilo para respondê-los, abrindo arisco, porém honesto, sorriso. De gravador em mãos, nossos correspondentes arrancaram-lhe verdades e lições.

De maneira cordial, Jecildo encerrou sua participação, voltando-se para o cumprimento de seu dever. Daniel sofrera duro golpe durante a pergunta do internauta Yuri Casquel, sobre churrasco grego, trazendo-lhe memórias antes enterradas em sua mente. Em certa feita, o produtor sofreu trágico episódio, passando extremamente mal, chegando até mesmo a evacuar por mais de um orifício, tudo graças à combinação do lanche e suco de máquina.
Mais algumas latas seriam necessárias para recarregar as energias. Os jovens voltaram-se para perto do carro, onde repousaram seus corpos por mais alguns instantes, cada um com seu beberico em mãos. O consumo no local já somava o total de seis latas, duas por cabeça. Àquela altura, a luz do dia era um dos bens mais preciosos para os zasalhas. o horário batia as três da tarde e nossos correspondentes não poderiam se demorar muito antes de rumar para o segundo Posto Ipiranga. Mais três latas foram adquiridas antes da partida, a barra de conhecimento estava sendo preenchida lentamente.


A próxima parada exigiu um caminho ligeiramente mais longo, com uma boa dose de trânsito. Ao chegarem no posto, se depararam com um espaço muito maior que o anterior. De fato, o Auto Posto Único Ltda. era um clássico posto de esquina, com uma loja de conveniência de dar inveja àquele mercadinho do bairro. Colado a ele, uma farmácia, para caso acontecesse aquele piripaque repentino.
O Ford Ka de Daniel foi estacionado com destreza de dublê. A esta altura, o funcionário a ser questionado já estava sendo sondado pelo radar de Zaso Corp., se tratava de Claudio, um homem sério, de pele escura, meia altura e que possuía uma espécie de pochete transversal por cima de um avental que muito lembrava a indumentária utilizada por profissionais do churrasco. No bolso do avental, uma máquina de passar cartão que mais parecia um revólver no coldre. Suas vestimentas deixavam-no futurista e arrojado. Outro detalhe que chamou a atenção no funcionário foi a massa corporal de seu dedão da mão, um bitelo de carne com unha no meio que mais parecia um tubérculo. No momento em que foi avistado, Claudio estava conversando com outra funcionária do posto. Conforme nossos correspondentes se aproximaram, a conversa cessou e o frentista lançou-lhes olhares de desconfiança, como um animal que pressente o perigo eminente. Quando informado da missão, abriu leve sorriso, apesar de estar relutante em esclarecer as questões do internauta. Arredio, ficou tentando empurrar a incumbência para a funcionária que, envergonhada, saiu de perto sorrateiramente, ciente de que ia acabar sobrando para ela. Se vendo só, Claudio se rendeu aos encantos dos zasalhas e aceitou contribuir. No alto de seus 40 anos de idade, o funcionário do conglomerado Posto Ipiranga é nascido em São Paulo e reside no bairro de São Mateus, zona leste da cidade. Corintiano, fã dum pagode raiz e de um Jack Daniels com Red Bull e gelo de côco, Claudio afirmou trabalhar no posto há cerca de um ano e meio, abastecendo veículos de diferentes portes e respondendo constantemente dúvidas sobre localizações a serviços.

Claudio apresentou uma postura austera e confiante, exatamente o que se espera de alguém que traz respostas esclarecedoras. Com o funcionário liberado para continuar seu trabalho, os zasóides entraram na loja de conveniência no intuito de trocar dinheiro por latas de cerveja. Na tevê, do lado esquerdo da porta de entrada, o apresentador Luciano Huck orquestrava seu show de horrores sabáticos. A barra de energia dos jovens sofreu amargo golpe, fazendo com que a vontade de sumir imediatamente daquele local se tornasse absoluta. Em sinal de protesto, Jonas comprou um Polenghi. Sem enrolação no posto, adentraram o automóvel de coloração branca e partiram para o próximo destino. A luz da tarde ia baixando lentamente, dando lugar a um tom flertante entre o laranja e o rosa.


O próximo Posto Ipiranga era facilmente duas vezes o tamanho do anterior, que nossos rapazes já haviam julgado parrudo. Se tratava do Posto Ipiranga da R. Conselheiro Carrão, 713. Ao estacionarem o carro ao lado da conveniência, repararam que do outro lado da rua havia uma espécie de mini-shopping com algumas lojas e um McDonalds™, com o que parecia ser uma batata-frita gigante no topo. Sem entender nada, e já sem tanta pressa pois a luz já baixara consideravelmente, os zasalhas adquiriram três latões, versões evoluídas das latas que vinham consumindo até então. Orgulhosos de suas novas aquisições, passaram a sondar os funcionários do posto, atentos ao possível escolhido. Pelo tamanho do local, podiam ser avistados pelo menos três frentistas, sendo que um deles chamou mais a atenção pelo carisma e louca risada, que podia ser ouvida a mais de quinze metros. Por trás de toda aquela alegria de viver, haveriam de ter respostas.


Vamos chamar o funcionário escolhido de Glípio. A pedido do mesmo, nossos correspondentes prometeram não divulgar sua verdade identidade, sinal de que polêmicas estariam por vir. Com trinta e um anos de idade, o frentista paulistano, que possuía características que potencializavam seu carisma, como miopia e papada, é morador do bairro da Vila Carrão, próximo de onde nossos correspondentes se encontravam. Veterano das Instituições Posto Ipiranga, afirmou já ter trabalhado em três unidades diferentes, todas pela região. Atualmente, está há seis meses no local. Assim que os zasalhas explicaram para ele como proceder, Glípio soltou sua embriagante risada e tentou dar aquela esquivada esperta. Com malemolência, nossos correspondentes convenceram o jovem funcionário a compartilhar um pouco de sua visão de mundo. Acompanhado de perto por mais dois funcionários curiosos que não pareciam estar muito interessados em trabalhar, Glípio foi submetido às perguntas.

Ao final do questionário, a vontade de aplaudir Glípio tomava conta dos nossos correspondentes. Para não tumultuar o local de trabalho, apenas agradeceram-no efusivamente e voltaram-se para os entornos do automóvel, a fim de mais três latões para molhar as palavras. A conversa foi longa e a noite já havia entrado em cena. Era hora de decidir qual seria o próximo posto. A busca ainda estava longe de acabar, o caminho agora seria mais para dentro do bairro, mais precisamente em direção ao Parque Santo Antonio.

Ao chegar ao local desejado, o Posto Ipiranga da R. Vale Formoso, 165, a primeira coisa que chamou a atenção dessa rapaziada jovem e bípede de Zaso Corp. foi o formato do posto, que lembrava muito uma península, em meio a uma bifurcação da avenida. O posto de pequeno porte estava vazio, nem sinal de frentistas. Timidamente, os zasalhas se aproximaram da pequena loja de conveniência, onde um rapaz no alto de seus vinte e cinco anos de idade trabalhava atrás do balcão, à paisana. Próximo dele, um senhor um tanto embriagado empunhava uma lata e assistia a um jogo de futebol na tevê, cravada na parede, próxima da sessão de chicletes. A peleja dava o toque de emoção ao estabelecimento. A partida era entre Internacional x Náutico, válida pela Série B do Campeonato Brasileiro. Daniel, colorado que é, sócio fundador da Torcida Organizada Colorálcool, foi prontamente seduzido pelo jogo, erguendo o queixo em direção ao televisor enquanto suas pupilas se dilatavam sutilmente. O Inter ia vencendo por dois gols a um. Após alguns instantes vidrados na partida, nossos correspondentes se voltaram para o lado de fora da loja e encostaram no carro, portando algumas cervejas, como não poderia deixar de ser.

Uma olhada matreira ao redor foi capaz de detectar que havia sim um frentista no posto, um ser humano adulto, de cabelos levemente grisalhos e jeito matuto de ser. O semblante do funcionário era um tanto intimidador, mas nada que impedisse nossos correspondentes de abordá-lo.
Marcos, 54 anos, é habitante da cidade de Ferraz de Vasconcelos, município da Grande São Paulo. O mais veterano abordado até então afirmou trabalhar no local há 8 anos, tempo suficiente para dominar a arte do abastecimento. Segundo ele, existem poucas pessoas que fazem perguntas naquele Posto Ipiranga, uma pena realmente. Amante duma cervejinha, não viu problema em ceder alguns instantes de sua vida em prol de tenros esclarecimentos.

Curta, intensa e levemente confusa, esta foi a participação de Marcos. Sem muita pressa, os zasalhas se despediram do funcionário e voltaram-se para onde o carro estava estacionado. Ficaram por lá consumindo mais algumas latas. Faltando poucos minutos para o fim do jogo, o Internacional vencia o Náutico pelo placar de quatro gols a dois, o que deixava Daniel Kubalack felicitado. Sem maiores rodeios, era chegada a hora de nossos correspondentes partirem para o próximo Posto Ipiranga.

Ao longo do caminho, os zasalhas foram adentrando uma região muito mais abastada do que as anteriores, ostentando prédios residenciais de altíssimo valor e bares em que uma água custa mais do que um litrão de cerveja em boteco de faculdade. O estabelecimento que receberia a presença dos nossos correspondentes seria o Posto Ipiranga da R. Barão de Serro Largo, 165. Assim que chegaram, Daniel cumprimentou o frentista, como que falando com um grande amigo, e o era de fato. O funcionário estava acostumado a abastecer os automóveis de Daniel e de seu pai. No alto de seus apenas vinte e quatro anos, Fabio afirmou morar em Guaianazes e disse que responde um número considerável de perguntas de clientes, em sua maioria relacionadas a localizações. Questionado sobre extraterrestres, afirmou não acreditar, já que nunca viu um. Já quando o assunto é Deus, disse acreditar. Se já viu ou não, fica no ar. Em se tratando de comes e bebes, o funcionário disse gostar muito de bebericar um whisky, ao mesmo tempo que não soube informar o maior kibe que já consumiu. Proprietário de um automóvel, afirmou abastecer constantemente nos Postos Ipiranga, apesar de não ter o costume de fazer perguntas no mesmo.
Enquanto Daniel e o funcionário conversavam, Jonas entrou na loja de conveniência e foi dar aquela escaneada em um salgado, faminto que é. Não deu outra, mandou um croissant para dentro que deixou-lhe soterrado em farelos. Enquanto isso, Leandro tomava sua lata calmamente. Munidos de mais um alimento, desta vez um Fofura sabor queijo, nossos correspondentes foram conversar com o funcionário, que ostentava semblante de confusão mental e desgosto pela situação. Ainda assim, aceitou o convite ao conhecimento.


Apesar do caçula do abastecimento demonstrar visíveis dificuldades em trazer respostas para as contundentes perguntas do internauta, deixou sua mensagem de paz. Afinal, é muito melhor não se comprometer do que falar asneiras, atitude nobre que Fabio cumpriu com eficácia admirável. Com o questionário finalizado, os zasalhas ofereceram cordialmente ao funcionário um punhado de Fofura. Ele recusou.
Seguindo o curso natural da vida, ambas as partes voltaram aos seus devidos deveres. O próximo passo seria entrar no automóvel e dirigir-se para o próximo Posto Ipiranga, onde loucas aventuras aguardavam nossos correspondentes.

A viagem foi uma das mais longas feitas até então, com os zasalhas adentrando as fronteiras do bairro da Água Rasa. A chegada ao Posto Ipiranga da R. Itaqueri, 565 foi marcada por um intenso forró comendo solto em um automóvel estacionado próximo. Encostados ao vidro da loja de conveniência, dois funcionários conversavam, enquanto outro abastecia os clientes sedentos por combustível. Seria muito ironia se Daniel não abastecesse seu carro em nenhum momento da jornada, o momento daquela recalibrada na gasosa chegara. De tanque cheio e bucho vazio, se sentiu deveras satisfeito com a prestação de serviço, faltava agora uma cerveja para abastecer o fígado. Os três zasalhas adentraram a loja de conveniência, que era de longe a mais abastada de todas até então. Logo à esquerda da entrada, uma espécie de câmara com uma porta pressurizadora chamou a atenção de nossos correspondentes, se tratava de uma geladeira climatizada. Dentro dela, algumas prateleiras de cerveja e um espaço equivalente a uma cela de cadeia. O vidro estava levemente esfumaçado, no modo popularmente conhecido como canela de pedreiro. Ao lado da porta, um enorme casaco encapuzado, para aquecer o aventureiro que quisesse adentrar a geladeira. O negócio ali era sério. Virando o pescoço setenta e sete graus para a direita, podia-se ver o balcão. A variedade de salgados na estufa era maior do que nos outros postos, realmente uma estrutura de causar inveja. Aproveitando a oportunidade, e o preço relativamente honesto, nossos heróis resolveram pegar uma Itaipava Lager™ para tomar, grande pedida para uma geração perdida. De latas e salgados em mãos, os jovens sentaram-se para praticar alimentação em uma das mesas redondas e altas que estavam espalhadas próximas da estufa. No alto de suas banquetas, atentamente estudavam o movimento, confabulando acerca de qual funcionário seria o mais apropriado para ser abordado.

O atendente do posto que mais chamou a atenção dos zasalhas era um jovem sereno e que claramente contava anedotas para seus companheiros de profissão, levando-os às gargalhadas. Assim que a chacota deu aquela acalmada, nossos correspondentes aproximaram-se de Rodrigo, o escolhido. Com trinta e três anos de idade, o morador do bairro de Cidade Tiradentes e entusiasta dum bom samba, trabalha no Posto Ipiranga há três anos. Rodrigo não se lembra da última vez que saiu na porrada, mas em compensação, lembra da última vez que bebeu, em Fevereiro. Depois de sair com os amigos para assistir um bom e velho jogo de futebol, o frentista voltou extremamente mamado e capotou no sofá de casa, em plena luz do dia. Acordado por sua esposa, que lhe sacodia avisando-lhe que era hora de trabalhar, Rodrigo repensou sua vida e chegou à conclusão de que o álcool estava complicando-lhe. Perguntado se costuma responder perguntas no Posto Ipiranga, afirmou que não muito, sendo que a maior parte são relacionadas à quilometros de vantagem. Ao contrário dos clientes que lhe fazem tais perguntas, Rodrigo não possui nenhum veículo motorizado, apesar de ser habilitado. Leitor assíduo, afirmou que atualmente está fissurado por mecânica quântica, assunto que vem tomando sua atenção nas horas vagas. Após saberem desta informação, nossos correspondentes não tiveram dúvidas de que Rodrigo daria um vareio de bola nas questões levantadas pelo internauta.

Com o forró ainda comendo, Rodrigo finalizou sua participação com chave de ouro. Naturalmente, a conversa com o frentista durou mais tempo do que com seus outros companheiros de profissão, tamanha sua desenvoltura e apreço por responder os questionamentos do internauta. Rodrigo com certeza fez jus à fama do Posto Ipiranga. Para coroar sua participação, afirmou já ter conhecido o protagonista dos comerciais do posto, ostentando até mesmo um registro fotográfico apoteótico. Tudo fez sentido.
Por questões de horário e medo de pegar o último posto de gasolina fechado, os zasalhas sequer compraram mais latas para a empreitada até o próximo posto, deixariam para depois. A próxima parada seria na mesma avenida, nada longe de onde se encontravam naquele instante. Rodrigo acenou-lhes, como que desejando boa sorte. Apenas uma palavra poderia definir com exatidão o que aqueles jovens sentiam naquele momento: show.

Rapidamente, Daniel avistou um pequeno posto, já cercado por correntes, mas com a loja de conveniência funcionando a todo vapor. Se tratava do Auto Posto Cassandoca Ltda., esbanjando todo o carisma que só um posto de gasolina quase fechando poderia proporcionar. Encostados em uma parede, três funcionários conversavam. Assim que os zasalhas desembarcaram, os atendentes pararam seu animado assunto e olharam ariscos para os forasteiros. Cordialmente, Daniel perguntou se a conveniência estava realmente funcionando. Recebeu um sinal positivo. Indubitavelmente, nossos correspondentes adentraram o local e se dirigiram em direção a uma das geladeiras. Em suas mãos, latas desfilavam vistosas e suculentas, esperando pelo seu momento de brilhar. Porém, quem mais brilharia nesta história toda estava do lado de fora da loja.

Cícero, o mais falante dos três mosqueteiros do abastecimento, seguiu a cartilha de outros frentistas, se mostrando ressabiado ao ser abordado por nossos correspondentes e tentando jogar a responsabilidade para seus companheiros de profissão. Também como de praxe, com alguma insistência, acabou por ceder e participar do questionário mais cremoso da internet brasileira. Com uma cerveja e um cigarro em mãos, o pernambucano de Cabróbró, estava absolutamente à vontade, ao ponto de contar aos nossos correspondentes que sua cidade natal é a terra do Morango do Nordeste. Para quem não está acostumado com o termo, Cícero explicou que se trata de um dos melhores fuminhos naturais que bagunçam a cabeça da juventude brasileira, e quiçá mundial. Perguntado se é um entusiasta do morango, afirmou que não, mas que também não tem nada contra quem aprecia-o. Palmeirense, mora no bairro da Água Rasa há mais de doze anos, muito próximo do posto de gasolina no qual trabalha há cinco. Segundo Cícero, é muito comum que os clientes do estabelecimento façam diversas perguntas, incluindo relacionadas às famigeradas propagandas. Fã de forró universitário e inimigo mortal de Calcinha Preta, o funcionário afirmou ter trinta e dois anos de idade, gerando sérias desconfianças entre nossos correspondentes. Quando questionado se estava falando sério, afirmou de maneira firme que sim, sem sequer esboçar uma risada. Deixemos que as imagens falem por si só.

Ao final do questionário, que durou o dobro do que os anteriores, sobretudo por questões de disponibilidade, os seis homens adultos confraternizavam de luzes apagadas e com a loja de conveniência fechada, cada um empunhando sua lata. Sem dúvida alguma, aquela fora a abordagem mais cordial do dia. Segundo os funcionários, a prática de empunhar aquela cervejinha pós-expediente era bastante comum entre eles. E que lugar melhor para consumar esse momento de glória se não no próprio ambiente de trabalho? Heróis. Com dor no coração e satisfação na mente, nossos correspondentes se despediram dos honestos trabalhadores e voltaram para o automóvel de Daniel.
De missão cumprida, era hora de tomar aquela última cagibrina, em um estabelecimento conhecido como Jail House, local que já teve o prazer de ter Daniel Kubalack como funcionário. Aproveitando os fortes laços de amizade que o zasalha ainda possui com os donos do bar, era mais do que justo dar aquela passadela no local, que ficava relativamente perto do Auto Posto Cassandoca Ltda.

A sensação de terem um número mais do que suficiente de respostas tomava conta de nossos correspondentes. Alegres e portando mais algumas latas, iam comentando alegremente os ocorridos ao longo do dia, numa embriagada retrospectiva. O destino seria novamente o bairro do Tatuapé. O relógio acusava quase meia-noite. Assim que Daniel entrou à direita na Rua Tobias Barreto, um pequeno movimento a cerca de cem metros chamava a atenção, na altura do Sesc Belenzinho. Algumas sirenes, viaturas estacionadas de lado e uma fila de meia dúzia de carros iam se aproximando dos zasalhas, que literalmente trancaram seus ânus para o que acontecia em frente aos seus olhos, uma blitz da Polícia Militar do Estado de São Paulo. A rua possuía dois murões e nenhuma escapatória, a não ser um criminoso cavalo de pau que poderia levar os zasalhas a uma perseguição policial digna dos filmes mais pastelões de Hollywood. Escangalhado, Daniel apenas cedeu seu latão de cerveja para Jonas, que ocupava o banco do passageiro, ao seu lado. Agora portando duas latas, escondeu-as no canto direito do banco, no vão entre o assento e a porta. Cordialmente, nossos correspondentes esperaram por sua vez de serem abordados. A tensão estava alucinante, a eminência de se foder era mais do que presente.

Os segundos passavam lentamente. O que há um minuto atrás era galhofa e euforia havia se transformado em tensão e silêncio. Quando o carro à frente dos zasalhas foi intimado a encostar para averiguação, a certeza de que não sairiam impunes atingiu o ápice, já era uma questão de para quem ligar e como proceder quando o carro fosse apreendido. A título de cagaço, Jonas e Leandro até mesmo removeram seus aparatos de cabeça, os populares bonés. Sem massagem, uma policial de longos cabelos negros, encarregada de abordar os motoristas, jogou aquela lanternada na fuça de nossos correspondentes, que apenas se mantiveram imóveis. O início da abordagem foi padrão, pedindo os RG’s de cada um e a carteira de motorista de Daniel. Com os documentos em mãos, a policial passou-os para outro tira, muito semelhante ao apresentador Evaristo Costa. Os policiais passaram a conversar olhando diretamente para os nossos correspondentes, num “cara-crachá” entre os documentos e suas faces. Longe o suficiente para não serem ouvidos, apenas aumentavam a tensão dos jovens, que sequer balbuciavam qualquer conversa entre si, apenas esperavam para ver onde tudo aquilo iria culminar. Cerca de cinco minutos depois, a policial que abordou-os voltou até a janela do carro e passou a devolver lentamente os documentos um a um, sem deixar claro se deixaria-os ir embora ou iria submeter Daniel ao bafômetro. De uma forma ou de outra, seria uma tremenda cagada, já que os três jovens estavam alcoolizados e Jonas não poderia pegar a direção nem que estivesse sóbrio, já que não sabe dirigir. Assim que terminou a devolução, a policial disse-lhes, com petulante tranquilidade, para terem uma boa noite e irem embora. O alívio era visível, quase paloso. Manter aqueles latões escondidos por tanto tempo estava causando danos mentais em nossos correspondentes. Imediatamente, Daniel passou a colocar seu RG de volta em sua capa de plástico. Com sérias dificuldades, o zasalha ia se complicando, o documento não queria encaixar por nada nesse mundo, recebendo golpes cada vez mais ansiosos, numa frenética ciranda de plástico, papel e dedo. Enquanto isso, Jonas, Leandro e a policial observavam a batalha calmamente. Percebendo que a situação estava patética e já durava quase um minuto, Daniel jogou o documento no porta-luvas e se concentrou em ligar o carro novamente. Uma pequena fila formava-se atrás dos nossos correspondentes. Recuperando suas capacidades motoras e mentais, Daniel acelerou o automóvel, que triunfalmente deixou a blitz para trás. A situação fora tão séria que o fotógrafo Leandro Furini sequer cogitou proporcionar ao internauta registros fotográficos daquela situação. Assim que a polícia sumiu do campo de vista dos zasalhas, a algazarra voltou com intensidade não antes vista.

A chegada até o bar foi marcada por euforia e alívio. Lotado, o local ostentava grandes baluartes da diversão noturna jovem, como álcool, música ao vivo, sinuca e alimento perecível. Por algumas horas, nossos correspondentes iriam praticar uma vasta gama de atos de lazer, com a presença de alguns amigos que viriam prestigiar aquele momento. A noite se mostrava fria, ao contrário do interior da casa, que se mantia aquecido sobretudo por conta dos sons emitidos por uma banda do gênero psycho-billy. Como nenhuma pergunta fora esclarecida ao longo deste fim desta jornada, não entraremos em maiores detalhes, mantendo esta farra no imaginário do leitor assíduo.
Por volta das três da mamãe, nossos correspondentes, já abatidos pelo cansaço, afinal o dia foi longo e produtivo, deram adeus ao local, depois de cometerem atos que seriam vistos como indignos e pecaminosos por boa parte das religiões do planeta. Abastecidos de todo o conhecimento adquirido ao longo da jornada, finalmente debandaram, cada um para seu devido lado.

Além de extremamente edificante, esta empreitada trouxe algumas valiosas lições para nossos correspondentes, sobretudo a famigerada “se beber, não dirija”. Zaso Corp. altamente recomenda que dúvidas existenciais e intensas indagações sejam levadas ao divã do Posto Ipiranga. E é com enorme satisfação que agradecemos a participação dos internautas que nos enviaram questionamentos.
Obs. 01: Se sua pergunta não figurou aqui, saiba que houve um motivo de ordem maior para isso, sobretudo levando-se em consideração polêmica excessiva e a proteção da integridade psicológica e moral dos funcionários do Posto ipiranga. Paz.
Obs. 02: Se você, zasonauta, tiver qualquer angústia existencial ou apenas curiosidades não esclarecidas, submete-as para nossa equipe de profissionais mal treinados através de nossas redes sociais, melhor opção, ou e-mail, zasocoporation@gmail.com, que costumamos abrir a cada três meses.