Fotos: LEANDRO FURINI | Texto: JOE BORGES | PRODUÇÃO: DANIEL KUBALACK
Esta matéria pode ser encontrada, em versão reduzida e adaptada, na revista Brews, publicação pertencente à cerveja Goose Island, distribuída pela Ambev, e produzida pelo coletivo Formiga-me.
Em 10 de Agosto de 1910, em tempos de lamparinas a gás e charretes, foi criado o Mercado dos Caipiras, num descampado próximo ao Largo da Batata. O comércio dos mais diversos e naturais produtos, sobretudo alimentícios e vindos do interior do estado, sempre foi o forte do local, que rapidamente se tornou referência no assunto, inclusive contribuindo de maneira imprescindível para o desenvolvimento da região. O recinto de varejo foi, anos depois, renomeado para Mercado Municipal Engenheiro João Pedro Carvalho Neto, vulgo Mercadão de Pinheiros. Como já é sabido por todos, a cidade de São Paulo teve um crescimento esculhambante do início dos anos 60 em diante, o que acabou gerando uma série de obras de construção civil para comportar esse inevitável aumento de fluxo. Entre estes novos empreendimentos estaria a Avenida Brigadeiro Faria Lima, construída entre os anos de 1968 e 1970. O Mercadão, que ia de vento em popa, foi obrigado a ser destituído de seu local para que a obra pudesse prosseguir, assim como diversos prédios, casas e comércios da região. Após breve hiato, foi reinaugurado em março de 1971, em seu atual endereço. Com a mudança abrupta de local, muitos estabelecimentos que faziam parte do antigo mercado acabaram sucumbindo ao tempo e às adversidades. Nenhum se manteve até os tempos atuais como o açougue Royal Meat, remanescente dos tempos de outrora do Mercadão. Mais velho do que grande parte de seus frequentadores, o açougue passou incólume por revoluções de cunho político e transformações consideráveis na sociedade, calejado pelo tempo e embebido na busca pela excelência em carnes. Evidentemente, manter toda essa estrutura de maneira tão soberana exige o trabalho de seres humanos que transbordem amor e dedicação às carnes. Como não poderia deixar de ser, Zaso Corp. veio não só conferir o que acontecia no lendário local, como também praticar atos de comércio para consumo próprio, descobrindo, por trás dos balcões do açougue Royal Meat, figuras emblemáticas.
Em recatado sábado, um evento denominado churrasco estaria marcado para acontecer no bairro do Tatuapé. Os correspondentes Jonas, Leandro e Daniel, entusiastas das carnes & derivados, estavam mais do que convidados para participar do ocorrido, que seria de autoria de um grande amigo dos mesmos. Porém, não poderiam chegar de mãos vazias, como o código de conduta e ética da churrasca deixa bem claro. Então, impávidos e incólumes, resolveram dar aquele pulo, como se diz na gíria, até a boutique de carnes Royal Meat, já cientes do status sacrossanto que o local merecidamente possuía. Ao pousarem os pés no Mercadão de Pinheiros, puderam observar que o movimento era ameno, num clima de fim de semana deveras aprazível. Logo à direita da entrada por onde chegaram, o estabelecimento dava as caras, com sua fachada retrô e claramente intocada há anos, quiçá décadas. As letras vermelhas e blocadas, anexadas a pequenas vigas verticais brancas, davam um aspecto absolutamente diferente dos outros estabelecimentos ao redor, com uma obsolescência quase guerrilheira. O local possuía um carisma próprio. Até mesmo os funcionários pareciam ter sido tele-transportados de uma época longínqua, o que dava um aspecto de museu para a casa de carnes.
Ao se aproximarem do balcão gélido e metálico, os zasalhas se depararam com um senhor de pele morena, respeitosa bigoda, camisa levemente desabotoada, avental com manchas quase imperceptíveis de sangue seco e feições que flertavam com o cansaço e a sabedoria. Se tratava de Wellington Marques da Cunha, que possuía título de nobreza no local, sendo o funcionário mais antigo do Royal Meat em atividade e um verdadeiro artesão das carnes especiais. Nascido há 64 anos atrás, na cidade de São Paulo, o funcionário morador da Freguesia do Ó trabalha no açougue desde 1969, época em que o comércio ainda ficava localizado no endereço antigo. Por incrível que pareça, Wellington teve literalmente uma vida inteira a serviço das carnes, este é seu primeiro, único e ininterrupto emprego, completando 47 anos de labuta prestada ao comércio. Rapidamente, o assunto com Wellington, que a princípio tinha o intuíto da comercialização de carnes, foi tomando rumos cada vez mais pessoais e oráclicos. Quando o assunto veio para o âmbito das férias, afinal, é uma das coisas mais importantes do planeta, o compenetrado cidadão afirmou não saber do que se tratava, tamanha sua dedicação. Afirma, inclusive, não ter qualquer outro hobby que não as carnes. Perguntado sobre o que mais lhe agrada em seu ofício, disse sem nenhuma dúvida que é atender o fiel público, sobretudo se o cliente for entendido do assunto. Wellington gosta de ter longas e edificantes conversas ao pé do balcão, prática que fez com que ele ficasse deveras conhecido no mercado. Ciumento, brada achar um absurdo que um cliente estimado compre carnes especiais em outro açougue, se dizendo chateado quando isso acontece. Segundo ele, em tom de desabafo, poderia haver ao menos algum tipo de satisfação sobre o motivo. Sensível porém severo.
Com tantos anos de serviço no mesmo local, é evidente que Wellington já presenciou uma série de mudanças e transformações, tanto no Mercadão de Pinheiros quanto no bairro que o comporta. Segundo ele, a maior mudança foi em relação ao movimento. O mercado tinha um apelo mais popular antigamente, estando, inclusive, habitualmente mais cheio do que hoje em dia. Com a instalação de espaços gastronômicos de cunho gourmetizado, como os restaurantes Mocotó e Comedoria Gonzales, o perfil dos frequentadores mudou, diminuindo a quantidade de pessoas e aumentando a renda per capita dos transeuntes. Sua opinião sobre o assunto é um tanto indiferente, se atendo apenas a dizer que comeu uma vez no Mocotó e não gostou. Seu negócio mesmo é um verdadeiro arroz e feijão, a comida do povo, como ele mesmo disse.

As 15h da tarde iam se aproximando e a conversa com Wellington se prolongava sem hora para acabar, com pequenos intervalos para que o funcionário pudesse atender os clientes. Os jovens entusiastas d’churrasca estavam lá há uma hora, aproximadamente. Foi então que a informação que mais causou reboliço nos envolvidos veio à tona. Perguntado sobre seu gosto pessoal para a alimentação, Wellington afirmou com firmeza que não come carne, dizendo que nunca foi muito chegado, desde os tempos primórdios de sua vida. Tal informação causou tela azul nos entrevistadores, afinal, trabalhar a vida inteira num açougue e não gostar de carne chega a ser poético. Entusiasta de uma boa salada de tomate e pepino, o paulistano explicou que as carnes não lhe fazem bem. Além de demorarem 48 horas para serem digeridas, acabam sempre por deixar-lhe com aquele desconfortável arroto atravancado na hora de escovar os dentes, como ele mesmo citou. Quando mais novo, gostava de carne moída esporadicamente. Sua esposa é grande entusiasta de peixe, alimento este que causa repulsa em Wellington. Se tivesse que comer uma comida para o resto da vida, seria o já mencionado arroz e feijão. Frequentador do lazer proporcionado pelo bairro de Pinheiros e região, afirma gostar muito da Vila Madalena, onde gosta de ir ao Galinheiro Grill, que, segundo o próprio, possui suculenta polenta, um dos seus deleites favoritos. Apesar de não ser chegado a uma carne na grelha, respondeu à nossa equipe que se pudesse chamar três pessoas para um churrasco, estas seriam: Jorge Aragão, Martinho da Vila e Zeca Pagodinho. Baita resposta. Em momento pitoresco, ao ser perguntado sobre sua bebida predileta, fechou a cara e disse que não tinha nenhuma. Observando a reação de estranhamento dos correspondentes em relação à sua resposta, pediu desculpas, havia entendido a palavra “bíblia” ao invés de bebida, afirmando que nunca bebeu na vida, apesar de ter cara de pinguço, segundo seu próprio julgamento. Sem responder claramente qual seria sua bebida não alcóolica favorita, disse que eram todas. Já imendando no assunto religião, afirmou não possuir nenhuma, apesar de acreditar em Deus. A única vez que entrou numa igreja foi no próprio dia do casamento, há 45 anos atrás. Depois da pergunta mal-entendida, Wellington passou a ficar levemente inquieto, claramente demonstrando que as perguntas feitas pelos jovens estavam tomando-lhe demasiado tempo.


Atentos aos sinais corporais e sudorese de nosso herói da velha guarda, os jovens correspondentes d’Zaso Corp. resolveram partir para uma última bateria de perguntas aleatórias e levemente desconexas. O funcionário é entusiasta de futebol, corintiano não tão fanático, mas o suficiente para sofrer em frente à telinha. Por falar em televisão, disse que seus canais favoritos são a TV Cultura, por conta de seus programas de entrevistas que muito lhe apetecem, e a Record. Sua cor favorita é o vermelho, afirmando que “preto” gosta desta cor. Em relação a automóveis, afirmou ter um Golzinho, seu fiel escudeiro. Em paralelo, Wellington gosta muito de andar de bicicleta, até os dias atuais. Mudando da terra para a água, o funcionário disse saber nadar bem, o suficiente para não morrer afogado, se dando uma nota cinco em habilidade aquática. Quando perguntado se tem alguma mania, fechou a cara e disse em tom severo que mania é coisa de louco e que ele não é louco, foi um momento de pequeno estresse para nosso herói das carnes. Foi nesse momento que Wellington soltou um bem-humorado, porém sincero, “Chega, caralho!”, seguido de uma risada recheada de sapiência. Por fim, questionado se acredita em extraterrestres, disse que não, mas acredita em maldade. Uma resposta que foi um verdadeiro voleio na picanha. E foi dessa maneira que Wellington terminou em grande estilo sua contribuição para esta publicação que estás a acompanhar, voltando imediatamente a seus afazeres, que não eram poucos.

Deixando em paz o valioso, e valoroso, Wellington, os zasalhas partiram para a missão inicial, a compra de alimento. A conversa com o funcionário tomou rumos ao ponto dos jovens esquecerem completamente de pedir-lhe uma indicação de carnes. Na outra extremidade do balcão, mais próximo do caixa, um senhor de barbas grisalhas cheias, óculos apoiados ao topo da cabeça e face serena atendia os clientes, enquanto o desenho não tão infantil Pica-Pau dava o ar da graça numa tevê logo acima dele. Uma rápida conversa fez com que os jovens descobrissem que se tratava de Germano de Almeida, o todo poderoso dono do estabelecimento. Solícito, cedeu um punhado de minutos de sua vida aos nossos correspondentes.
Nascido em Portugal há 64 anos atrás, Germano veio para o Brasil com a família aos dez, diretamente para a cidade do Rio de Janeiro. Sua família já trabalhava com o mundo das carnes naquela época. Seu pai era tripeiro, enquanto seus tios tinham uma charrete utilizada para levar felicidade aos entusiastas de seus serviços. Em 1977, comprou seu primeiro açougue, no bairro de Oswaldo Cruz, Zona Norte do Rio de Janeiro, próximo da escola de samba Portela. Levando jeito para os negócios, tocou-lhe até o ano de 1982, quando se mudou para São Paulo. Se estabelecendo no bairro da Vila Piauí, na Zona Oeste da cidade, se arriscou a ter uma loja de utilidades domésticas antes de finalmente comprar o açougue Royal Meat no ano de 1992, tornando-se assim senhor das carnes do local.

Morador da Freguesia do Ó, assim como seu funcionário Wellington, Germano vem a bordo de sua moto quase todos os dias para o açougue no intuito de gerenciá-lo. Entusiasta da vida sobre rodas, já viajou o mundo inteiro de moto, para lugares como Vladivostok, ao extremo leste da Rússia – enquanto estava com grandes amigos seus -, e para o Marrocos, desta vez com sua esposa. Segundo ele, o maior perrengue que passou sobre duas rodas foi quando seu GPS simplesmente apagou enquanto ele estava no meio do deserto do Saara, em companhia de sua cônjugue. Milagrosamente, conseguiu voltar para a Europa através do Estreito de Gibraltar. Outra história que fez questão de contar, por ser tão marcante em sua vida, foi sobre uma viagem de 2 meses para o Alaska. Germano partiu de São Paulo até o estado americano na companhia de um amigo. Na volta, enquanto já estavam na Amazônia, seu amigo acabou por colocar a moto numa transportadora e foi embora de avião. Sozinho, o português não se abateu. Recolheu sua moto e atravessou o Rio Amazonas em um barco que, descobrira depois, já havia afundado duas vezes naquele mesmo percurso. Ao chegar em Belém, desceu o Brasil a bordo de sua moto parando em pequenas cidades, suas favoritas, para se alimentar, defecar e dormir. Um dia antes da triunfal volta, parou em Ribeirão Preto. Germano estava há 2 meses sem beber, resolvendo se permitir alguns cremosos chopes enquanto se alimentava ferozmente. Na volta, foi há 40km/h pelo acostamento, sem saber se estava voltando para o Rio de Janeiro ou indo para São Paulo. Acabou por chegar em Indaiatuba, dormindo fortemente em um hotelzinho da cidade. A ressaca pegaria-lhe de jeito. No dia seguinte, foi até uma feirinha no local e comprou uma orquídea para sua esposa, flor esta que ele viria a dizer que foi comprada na Costa Rica. A flor era tão grande que teve que ir encaixada em seu colo, cobrindo praticamente toda a sua visão, fazendo com que ele tivesse que ficar relativamente curvado para o lado para enxergar a estrada. Germano conta que passou desta maneira em frente a uma base policial, não sendo parado por milagre. Ao chegar em São Paulo, foi ovacionado por amigos e familiares, que esperavam-no em um posto de gasolina. Foi o momento mais marcante de sua vida.
Enquanto Leandro ia fotografar o interior da casa de carnes, o português lhes confidenciou outra paixão, a Fórmula 1. Há mais de vinte anos, Germano trabalha na categoria, sendo, atualmente, coordenador de acesso do GP do Brasil, já há quatro. Antes disso, já passou por outros serviços dentro do mesmo esporte, tendo trabalhado na pista e como coordenador dos estacionamentos, onde já passou por alguns apertos, como correr atrás de cachorro que invadiu a corrida. Pavio curto, já passou por dezenas de perrengues, como discutir com três homens ao mesmo tempo, quase chegando às vias de fato, e ter que trabalhar com o pé muito machucado por conta de um acidente de moto. Porém, o dia mais memorável para ele neste sentido foi no último GP, quando discutiu com o motorista particular do jovem piloto Sebastian Vettel. Segundo ele, o chauffeur queria sair do autódromo antes da abertura dos portões. Fazendo seu trabalho, Germano não permitiu que isso acontecesse, pois qualquer envolvido na corrida só poderia deixar o local depois de vinte minutos do encerramento do evento. Os dois se xingaram com afinco, beirando a porrada. Injuriado, o motorista de Vettel apenas retirou-se espumando de raiva. Depois de alguns minutos, o injuriado motorista voltou novamente, dessa vez acompanhado de Vettel, que obrigou o funcionário a pedir desculpas para Germano, dando-lhe um Red Bull™ como oferenda de perdão. Tudo deu certo e todos foram embora com saúde mental e física intáctas.
Antes de falar acerca de carnes, Germano, fora submetido à tradicional bateria de perguntas aleatórias feitas pelos jovens farronautas. A leitura não é seu forte, afirmando que não gosta de ler mas costuma dar aquela folheada em jornais impressos. Nada entusiasta de Facebook, Whatsapp e outros meios de comunicação, em certa feita mandou uma mensagem de áudio sem querer para o grupo administrativo do Mercadão, esculachando os administradores, fato este que constrangeu-o mas não o fez baixar a guarda, comprou a briga como se fosse a sua intenção esculhambá-los. Perguntado sobre os restaurantes gourmetizados dentro do grande mercado, afirmou já ter comido em todos, se atendo apenas a dizer que acha ceviche uma grande falcatrua. Para ele, a gourmetização é importante para tirar as pessoas de casa, mas não a vê como fundamental, se referindo aos alimentos vendidos por estes estabelecimentos como comidinhas, que ele considera muito “mimimi” e pouca comida. Se pudesse chamar três famosos para um churrasco, seriam estes o lendário piloto Ayrton Senna e mais duas belas senhoritas, Grazi Massafera e Gisele Bundchen, personalidades que teve o prazer de conhecer. Entusiasta de uma boa cerveja, afirma que na realidade é mais apegado à roda de amigos que ao álcool em si. Quando o assunto foi música, afirmou gostar muito de Frank Sinatra, que, segundo ele, era o driblador e boleiro da música. Que declaração, senhores. Germano acredita que Gorete Milagres é feia, gosta de filmes de ação e, assim como seu funcionário Wellington, sabe nadar apenas o suficiente para não morrer afogado, dando-se uma nota 4.5 para sua habilidade aquática. Germano nunca fora atacado por nenhum animal silvestre, apenas por um cachorro, fato este que terminou sem maiores complicações para nenhum dos animais. Acredita em extraterrestres e afirmou que sua esposa vive a lhe dizer que ele tem uma mediunidade forte, apesar de ele próprio ser cético em relação ao assunto. Por fim, confidenciou que seu famoso que emagreceu favorito é o Leandro Rassun.

Mais uma vez fisgando o assunto principal de volta, os zasalhas entraram novamente no campo das carnes, querendo saber a opinião de Germano antes de pedir-lhe uma indicação para a churrasca. Grande entusiasta da alimentação carnívora, o anfitrião afirmou comer todos os dias alguma espécie do alimento. Sua carne favorita é o braço de boi. Também apreciador de uma gordura, contou para nossos correspondentes que existem algumas carnes que nunca provou na vida e adoraria degustar, como, por exemplo, de lhama. Questionado acerca de alguma carne que não gosta, afirmou não possuir, completando, cheio de sagacidade, que o melhor tempero é a fome. Germano afirmou que gosta bastante também de massas, além do famigerado arroz e feijão. Em contrapartida, tem verdadeira repulsa a vegetais, sobretudo brócolis e quiabo. De maneira irônica, disse que aquilo é comida para pássaro e não para ele. Apesar das declarações, mantém seu desgosto pelos vegetais para si, entendendo que não passa de gosto pessoal. Perguntado se trabalha com carnes de soja, disse que não. Adorador de uma bela churrasca, disse ter perdido um pouco do costume de praticar o esporte, fazendo-o com uma frequência de uma vez por mês apenas, em sua casa. Segundo ele, na época em que morava no Rio de Janeiro, comia churrasco praticamente todos os dias, já que em cada dia da semana algum familiar cedia um nobre espaço de sua casa para o evento, regado a alimentação excessiva e muito chope gelado. Segundo ele, todo mundo no Rio de Janeiro é açougueiro, inclusive o ex-gordo André Marques, que, segundo Germano, é seu concorrente direto. O disc jockey e celebridade possui duas boutiques de carnes no bairro da Barra da Tijuca, disse Germano, bombasticamente. Informações valiosas. Perguntado sobre qual é o maior pecado do mundo das carnes, o português afirmou sem titubear que sem dúvida é passar do ponto. Germano acha inadmissível a prática de carne bem passada, pois, segundo ele, perdem-se completamente as propriedades do alimento.
O tempo corria e os zasalhas estavam atrasando-se para a churrasca. Para finalizar a estadia no local, pediram encarecidamente para que Germano lhes indicasse o que levar para o evento, implorando pela misericórdia do senhor de carnes, para que este não lhes indicasse nada de muito caro, afinal, são jovens de situação financeira debilitada. Embebido em justiça, indicou-lhes uma peça de alcatra, linguiças bragantinas – temperadas com ervas finas – e linguiças de provolone, para agradar os mais variados paladares. O pedido foi acatado e, com enorme gratidão, os zasalhas se despediram de Germano e Wellington em direção ao churrasco, ansiosos pelo consumo dos produtos.

Os paladares de todos os envolvidos no evento foram extremamente agraciados, não haviam dúvidas de que os zasalhas haviam feito a melhor escolha. A festa descambou fim de tarde e noite adentro, só restava mandar o mais sincero agradecimento para os dois artesãos da velha guarda das carnes, que tanto alimentaram os zasalhas com ótimos relatos e com carnes d’primeira linha.