Fotos: LEANDRO FURINI | Texto: JOE BORGES | Produção: DANIEL KUBALACK
Na manhã de 11 de Setembro de 2001, eventos aterradores ficariam cravados na mente de bilhões de pessoas por todo o mundo. Num intervalo de cerca de três horas, quatro aeronaves sequestradas por terroristas acabariam por chocar-se contra dois cartões postais norte-americanos. O primeiro avião atingiria a Torre Norte do World Trade Center, importante centro comercial empresarial da cidade de Nova York. Quinze minutos depois, e já com a repercussão mundial a pleno fervor, uma segunda aeronave seria arremessada contra a Torre Sul do mesmo conjunto empresarial, aumentando o número de vítimas para mais de duas unidades de milhar e tornando a cena ainda mais incrédula para cidadãos de todo o planeta. Como se não bastasse a bizarríssima cena das Torres Gêmeas pegando fogo ao vivo na fria manhã, um terceiro avião atingiria o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, em Washington. Um quarto avião acabaria por ser derrubado ao solo, após um motim da tripulação contra os surrupiadores, evitando assim uma tragédia de proporções ainda maiores. Os acontecimentos figuraram em praticamente todas as emissoras televisivas do planeta por durante horas a fio, o que faria com que todo o mundo estivesse ligado em um único evento como nunca antes, nem mesmo Copa do Mundo ou Olimpíadas chegaram perto de tal façanha. Fatalmente, nos dias que sucederam tais atos, questões começaram a ser levantadas, principalmente com relação aos autores de tamanha barbárie. Os norte-americanos rapidamente atribuíram os ataques a uma organização terrorista conhecida como Al-Qaeda, cujo líder, e suposto idealizador dos ataques, seria o saudita Osama Bin Laden.
Enquanto o mundo se ouriçava com os tenebrosos eventos que marcaram a primeira metade do mês de Setembro de 2001, um pacato e tímido comerciante cuidava de seu bar, na região central da cidade de São Paulo, próximo ao popular Terminal Bandeira. Este homem, nascido há 56 anos atrás na cidade de Jucás, Ceará, e batizado como Francisco Hélder Braga Fernandes, era o feliz proprietário do Bar do Barba, ou Barbas, para alguns, que possuía tal alcunha por conta da vasta quantidade de pêlos faciais de seu dono. Quase que imediatamente após a primeira aparição do líder terrorista na telinha brasilóide, um grupo de motoqueiros que trabalhava próximo ao bar começou a enxergar enorme semelhança entre Hélder e o líder da Al-Qaeda. Empolgados com a situação, empunharam seus celulares com câmeras de pixelagem pré-histórica e pediram encarecidamente para que o proprietário do boteco tirasse uma foto com um pano de prato envolto à cabeça. Ao longo de alguns anos, à base de boca-a-boca e de muito Orkut, a repercussão foi ganhando força, Francisco estava sendo cada vez mais associado a Osama, o que não lhe deu outra opção a não ser assumir a gritante semelhança com bom-humor e galhofa. Em 2008, sete anos após os atentados terroristas que mudariam os rumos da humanidade, o então Barbas passaria a ser conhecido como Bar do Bin Laden, sobretudo por conta de forte pressão de populares frequentadores do recinto. Francisco, ao contrário do que se imagina, não virou sósia de Osama, ele foi escolhido para sê-lo, mantendo sua tradicional aparência de barbas longas, já habitantes de seu rosto muito antes das tragédias de 11 de Setembro, acrescentando ao figurino apenas um gorro branco imitando um turbante e calças camufladas, suficientes para compor uma icônica e carismática persona.
O cearense Francisco Hélder Braga Fernandes se estabeleceu na cidade de São Paulo em 1978, aos 18 anos de idade. Em busca de condições melhores de vida, o então agricultor trocou a calmaria da roça pela agitação paulistana, indo trabalhar numa cantina napolitana localizada no bairro da Lapa, onde permaneceu por cerca de um ano. Sedento por seu próprio espaço, logo adquiriu seu primeiro de muitos bares, em sociedade com seu irmão, ainda na Zona Oeste da cidade, mais precisamente na Vila Anastácio, região pertencente ao já citado bairro da Lapa. Bin, como é chamado por boa parte dos frequentadores de seu atual estabelecimento, tem uma vasta experiência como proprietário de bares, tendo sido dono de comércios em bairros como Pinheiros e Vila Madalena (que, segundo ele, deixaram saudades), antes de se aventurar pelo interior de Minas Gerais, mais precisamente em Sete Lagoas. Por fim, mais precisamente no ano de 1994, adquiriu sua atual propriedade, na Avenida Nove de Julho, se estabelecendo firme no centro de São Paulo, de onde não saiu mais. Em tempos vindouros, chegou a ter oito funcionários e servir mais de cem pratos de comida por dia no local, apesar de ter confessado não saber cozinhar, afinal, haviam funcionários encarregados desta função. Após um período que chamou de crise, no início de 2000, passou a lidar sozinho com o local, abolindo os pratos de comida, funcionários e cuidando de tudo meticulosamente. Tal controle não poderia ser diferente, o lugar é literalmente sua casa, mora aos fundos do estabelecimento. Tudo mudaria para nosso herói ao assumir de vez a semelhança binladesca e adotá-la também para seu bar, o que levaria-o a atingir novos níveis de clientela.
A vida de proprietário de estabelecimento trouxe sabores diversos aos bigodes de Francisco. Segundo ele, o que mais gosta em relação a ser dono de bar é a interação com as pessoas, sendo que a que menos lhe apetece é a limpeza, que prefere fazer imediatamente, para já se livrar do encargo. Entusiasta de sinuca, até mesmo possui uma mesa de bilhar no estabelecimento, apesar de não gostar de nenhum outro esporte e/ou atividade física. O que gosta mesmo é de tomar um Dreher com Coca-Cola, apenas acompanhado, de portas fechadas e sem muita frequência – no máximo uma vez por semana e olhe lá. Francisco é um apreciador de diversas vertentes do rock e metal internacional, como Kiss, Iron Maiden, AC-DC e ZZ Top, como não poderia deixar de ser. Apesar do gosto musical marcante, Bin não possui afeição a tocar nenhum instrumento, guardando sua relação com a música exclusivamente para o deguste. Claramente, imprimiu tal gosto pelo gênero em seu bar, frequentado por todas as tribos, segundo ele próprio, mas que claramente tem o apreço dos entusiastas do róque pauleira. Seu bar é recheado de fotos com fãs, cartazes, pôsteres (que ele mesmo agiliza), souvenirs e todo o tipo de publicação da mídia que explore sua semelhança com Bin Laden, tornando seu estabelecimento aconchegante e rico em informação, o que, aliado a uma iluminação relativamente forte, porém bastante intimista, traz a sensação de uma verdadeira toca, da maneira que Zaso Corp. tanto aprova.


Ao contrário de seu semelhante saudita, o simpático e destro Francisco nunca sequer pegou em uma arma, quanto mais em explosivos, nem quando era criança, afirmando ser extremamente pacífico e contra qualquer tipo de guerra ou conflito. Perguntado se já havia presenciado alguma explosão, contou à equipe Zaso Corp. que em meados dos anos 90 presenciou um bueiro do outro lado da rua explodir após uma forte chuva. Foi o mais próximo que já esteve de um estampido. Já quando o assunto é origens, nosso herói afirma não ter nenhuma relação com o Oriente Médio, sendo que sequer tinha idéia da região, não se interessando, mesmo depois do reconhecimento, por procurar saber mais sobre a Al-Qaeda e Bin Laden, que ele gosta de chamar de “Bilar”, fato que acrescentou-lhe importantes pontos de carisma, que em nenhum momento lhe faltaram. Apesar de dormir praticamente todas as noites com a tevê sintonizada na Globo News, Francisco deixou claro que não possui um partidarismo político, se mostrando respeitoso com toda e qualquer ideologia.
Batizado no cristianismo, mas sem exercer qualquer tipo de doutrina de maneira fervorosa, Francisco afirma não ter relação com nenhuma religião específica, acreditando em Deus como uma força e respeitando até mesmo aqueles que não acreditam em entidade espiritual alguma. Além de tolerar visões alheias, Bin também gosta bastante de filmes, sobretudo de detetive e kung-fu, tendo como ídolo Bruce Lee, um grande herói, diga-se de passagem. Em se tratando de família, o barbudo entusiasta de uma feijoada não é tão próximo dos parentes, o que ressalta seus traços de ermitão. Apesar de tudo, a família leva sua situação de sósia numa boa, ciente de que ele não deixou de ser quem sempre foi, com apenas algumas pequenas modificações, mantendo sua originalidade acima de tudo. Sem entrar em maiores detalhes, Francisco confidenciou que nunca foi casado e nem teve filhos, informação polêmica, tendo vivido durante 16 anos com sua companheira na época. Em se tratando do sexo oposto, Bin afirma que as mulheres gostam bastante de sua barba, o que já lhe rendeu alguns bons frutos. Perguntado sobre gostos pessoais, afirmou que acha a Angelina Jolie e Ivete “Zagallo”, como ele próprio colocou, mulheres estonteantes. Atualmente, atentem-se moças e moços, Francisco não está se relacionando com ninguém, tocando seu barco sozinho. Mudando apenas a embarcação, de barco para avião, o protagonista afirma ser adepto do grande pássaro de ferro, acostumado a viajar para o Norte do Brasil, sempre no intuito de visitar esporádicamente familiares e amigos. Francisco costuma causar certo alvoroço nas aeronaves e aeroportos em que passa, sendo que muitas vezes, principalmente em tempos de fervor dos atentados terroristas, funcionários acabaram por revistar-lhe e tomar seu tempo além da conta. Engana-se você que acha que Francisco Hélder, o Osama brasilaço, não tem medos. Seus cagaços maiores nesta aventura débil conhecida como vida são cobra e palhaço, ao contrário da morte, que não lhe assusta em absolutamente nada.
Quanto mais o assunto ia se desenvolvendo, mais a certeza de que a versão brasileira de Osama Bin Laden era bem mais carismática e cremosa, ganhando rapidamente a amizade e admiração de Zaso Corp. Pelo visto não foi apenas esta trupe de jovens debilitados que foi com a cara de Bin, Francisco afirma que nunca sofreu preconceitos ou represálias com relação à sua persona pseudo-saudita, fato que faz todo o sentido ao se olhar ao redor de seu bar e ver as milhares de fotos tiradas com fãs e/ou pessoas alcoolizadas que o admiram.
Apesar da evidente simplicidade e indiferença com luxos e apegos materiais, as semelhanças de Francisco com o terrorista saudita Osama Bin Laden não só catapultaram seu estabelecimento como levaram-no a flertar com os mais altos escalões da mídia nacional e internacional, sempre por conta de sua característica física. Após aparições em revistas e outros meios impressos, sobretudo numa matéria da Folha sobre sósias nos meados dos anos 2000, Francisco finalmente debutou na tevê. O primeiro a chamá-lo para a telinha foi o apresentador Geraldo Luis, da Record, que chegou a ir até seu bar para entrevistá-lo. A emissora sempre se mostrou bastante adepta de nosso herói, vindo a fazer novas reportagens com o mesmo, principalmente promovendo um encontro entre Francisco e Barack Obama, logo após a morte do terrorista saudita verdadeiro, em 2011. Por conta das aparições televisivas, chegou até mesmo a imprimir grandes posters com momentos ocorridos durante os programas, hábito que se tornaria recorrente dadas as proporções de suas visitas conseguintes à televisão. As contribuições para a tevê nacional não pararam por aí, com destaques para as emissoras Bandeirantes e SBT. Na Band, foi convocado pelo ex-bom programa CQC, que tentou promover um bizonho encontro entre nosso anfitrião e George W. Bush, durante uma visita secreta do presidente norte-americano para prestigiar uma palestra sobre o pré-sal. A tentativa supostamente foi frustrada por um esquema de segurança eficiente, a se levar a crer também pela falta de indícios na internet do ocorrido. Já no SBT, no ano de 2009, Francisco teve a oportunidade de dividir o palco com a entidade máxima e suprema da televisão brasileira, Silvio Santos, participando de um quadro de seu programa dedicado a sósias. Francisco afirmou, numa escala de 65% de paranormalidade e 35% de zueira, que sua barba parou de crescer depois que Silvio Santos tocou-a, estagnando ao ponto que se encontra atualmente, já aniversariando seis anos. Ainda em ritmo de paranormalidade, exatamente no momento em que o anfitrião contava sua experiência com o supra-sumo da galhofa televisiva, tal canção tocava nos auto-falantes do boteco.
Com toda a repercussão que o pacato cidadão vinha ganhando, não demorou para que a mídia internacional ficasse sabendo de sua existência. A emissora catariana Al-Jazeera, a mais popular do Oriente Médio, enviou emissários ao país para ter uma bem-humorada conversa com Francisco, o que acabou resultando em um gorro-turbante de presente, que exibe até os dias atuais, e o honorário título de “Homem Mais Parecido com Osama Bin Laden do Brasil”. Segundo o próprio, a fama internacional chamou a atenção de americanos, chineses, japoneses e até mesmo russos, sempre se comunicando com a ajuda de um tradutor. A presença estrangeira foi catapultada ao infinito com a Copa do Mundo de futebol realizada no país em 2014. Uma rápida visita ao deus Google mostra o status que o comerciante atingiu em âmbito mundial, em especial no Reino Unido, país que mais comporta matérias jornalísticas acerca da figura emblemática, que figurou tanto em videos internáuticos quanto em jornais de grande destaque na região, como Telegraph, The Guardian, Daily Mail e Mirror. Segundo o próprio, o faniquito causado fez com que seu telefone chegasse a ser rastreado e a CIA lhe fez uma série de perguntas acerca de um possível envolvimento com grupos armados terrorista, rumor evidentemente desmentido. Porém, foi no réveillon de 2009 que Hélder teve um dos momentos mais ovacionados de sua vida, quando participou da festa da virada de ano na Avenida Paulista, para o delírio dos milhares de presentes, um dia que nunca mais esqueceu e fez questão de contar de maneira orgulhosa, tanto quanto suas aparições além-Brasil. Sua última aparição nas telinhas nacionais foi novamente com Geraldo Luis, mais precisamente no Domingo Show, há tempos desconhecidos pela entidade Zaso. Perguntado acerca de planos para o futuro, Francisco afirmou não ter nenhum, dizendo que nunca vai atrás dos programas de televisão e revistas, são sempre eles que vão até ele.
O mundo dos sósias nunca foi o habitat natural de Francisco, apesar de ele ter tido relativamente bastante interação com o mesmo. Depois da morte de Osama Bin Laden, em 2011, suas aparições junto de outros sósias, principalmente de Barack Obama, seu amigo e sósia favorito, multiplicaram. Sem nunca ter feito parte de nenhuma agência ou ter se relacionado com empresários, Bin afirma ter boa relação com os sósias de Pelé e Neymar, considerando-os pessoas ótimas. Em relação ao mundo feminino, conheceu as semelhantes de suas duas musas, Angelina Jolie e Ivete Sangalo, confirmando a boa-índole das duas. Perguntado se já havia conhecido um sósia de George W. Bush, Francisco afirmou que não, porém, em contrapartida, já teve contato com outros Bin Ladens, até mesmo cruzando com um ao atravessar uma rua do centro de São Paulo, momento que, ao que tudo indica, teve índices anarquistas de glória. Em paralelo à sua relação com outros sósias, o mundo dos famosos “de verdade” também desenvolveu forte apreço pelo cearense Zé do Caixão frequentou seu humilde bar por durante anos, sempre munido de sua tradicional caipirinha. O renomado maestro João Carlos Martins, por sua vez, voou de Nova York para conhecer Francisco após ler uma matéria escrita sobre ele em 2008, se tornando frequente usuário de cachacinha Seleta dentro do perímetro do Bar do Bin Laden. O maestro se tornou tão amigo de Bin que passou a frequentar o lugar com frequência suficiente para se tornar souvenir, eternizado em um belo relógio. Francisco ainda confidenciou forte apreço pelo agora requisitado Mc Bin Laden, que inclusive convidou-o, em 2014, para o clipe oficial da música Bin Laden Não Morreu, uma verdadeira epopéia de vinte e cinco minutos de ação e emoção. Seu currículo de interações com celebridades lhe rendeu boas risadas e histórias homéricas até os dias atuais, situação que parece não ter prazo para cessar.


Ao contrário do que muitos podem acabar pensando, e escrevendo de maneira irresponsável, fica evidente que a relação de nosso protagonista com o terrorista Osama Bin Laden é meramente jocosa e inofensiva. A receptividade, desapego e diferença de conduta com seu semelhante saudita apenas endossam sua boa índole. Toda essa experiência mostra que o proprietário do bar mais bombado do centro de São Paulo tem algo que parece estar se tornando escasso nos tempos atuais, o senso de humor. Pacífico e contra qualquer conflito, não negou suas raízes humorísticas cearenses ao adotar a semelhança com Bin Laden de maneira afável, não fazendo mal a ninguém, tirando apenas o proveito que seu reconhecimento popular lhe trouxe e sem se importar com juízo de valores e outras cagações de regra que pudessem brotar provenientes de sua indumentária. Sobretudo por conta do fato de não ter necessariamente mudado seu estilo de vida depois de reconhecido como sósia – sendo usuário da vasta barba há mais de uma década antes dos atentados de 11 de Setembro, e apenas adotando um pseudo-turbante e calças camufladas -, Francisco demonstra que sua originalidade vai muito além do que a miopia moralista pode enxergar, servindo como película para uma pessoa bondosa e de bom coração. Vida longa a Francisco Hélder Braga Fernandes e ao Bar do Bin Laden, recanto de uma boêmia roqueiróide e variada, assim como a cidade que lhes serve como cenário. Não julgue um livro pela capa e não julgue um homem pela barba.