Labuteiros da Madrugada — Série Fotográfica com os Trabalhadores Noturnos de São Paulo

Fotos: LEANDRO FURINI | Texto: JOE BORGES

A luz do dia vem dominando o cenário do trabalho remunerado há séculos, sobretudo com relação ao horário de chegada ao recinto trabalhístico. Porém, nem todas as pessoas que habitam a face da Terra se adaptam completamente a essa convenção, muitas sequer à labuta em si. Existe uma larga gama de seres humanos que rendem e produzem de maneira mais eficaz na calada da noite, sofrendo foderosamente com esse sistema monolítico. Estudos recentes, ou nem tanto, até mesmo denominaram tal grupo marginalizado como Sociedade B. Em alguns países já existem até mesmo escolas, escritórios e outros serviços com horários alternativos para atender essas pessoas de relógio biológico diferenciado. Aqui a coisa ainda anda de maneira convencional, respeitando a jornada diurna clássica. Porém, calando os críticos, existe todo um universo labuteiro que funciona na madrugada e disponibiliza uma série de serviços bastante úteis para você e sua família, e não estamos falando apenas de taxistas, seguranças e profissionais da cópula. Seus motivos para atuar em horários alternativos desta maneira são os mais diversos, o que forma um rico mosaico de possibilidades. Como entusiastas dos horários da madrugada, fomos atrás de alguns desses heróis da noite na cidade de São Paulo, jogando luz sobre essas carismáticas criaturas que acabam sendo eclipsadas por este enorme asteróide encarquilhado, no formato da face do Evaristo Costa, chamado Normalidade.

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Antonio , 49 anos, São Paulo-SP. Jornaleiro.
Torce para o Palmeiras, passa o dia todo dormindo e sempre trabalhou de madrugada na banca de jornal porque acha mais sossegado. Presenciou muitas brigas em frente à sua banca, sobretudo protagonizadas por jovens embriagados. Gosta de ouvir Seu Jorge e já foi entrevistado pelo Programa da Ana Maria Braga por conta de seus hábitos noturnos.

Hélcio , 58 anos, São Caetano-SP. Florista.
Mora no bairro do Itaim Paulista, gosta de jogar um bilhar com os amigos e trabalha de noite porque acha mais tranquilo. Sua floricultura, localizada no Largo do Arouche, é frequentada por celebridades de grosso calibre, como Chiquinho Scarpa e Miguel Falabella. Passou quase o tempo todo de entrevista chafurdando a mão direita dentro de um vaso lotado de água, não temos informações do motivo.

Edson “Jeová”, 32 anos, Irerê-BA. Borracheiro.
Mora em São Paulo há 7 anos, usa o dia para resolver burocracias da vida e gosta de ritmos brasileiros que tenham bastante percussão. É exímio baterista, teve diversas bandas e é conhecido na região da Bela Vista por tocar bateria com pedal duplo em pneus.

Claudio, 47 anos, Piripiri — PI. Cozinheiro.
Mora no bairro da Bela Vista, sua musa é a Juliana Paes e gosta de ouvir Roberto Carlos. Apesar de já ter trabalhado de madrugada como porteiro, não gosta do horário, o faz por necessidade mesmo. Trabalha na Feira da Madrugada do Brás e já presenciou diversos tumultos e confrontos entre policiais e comerciantes na região.

Agda, 25 anos, São Paulo-SP. Comerciante.
Vende suas roupas na Feira da Madrugada do Brás há 1 ano e isso a ajudou a perder a timidez. Já reclamaram que suas roupas são caras, ela argumentou que é porque têm qualidade. Morou quase a vida toda no interior da Paraíba, não bebe e gosta de escutar Maria Gadú.

Mateus, 64 anos, Francisco Badaró — MG. Feirante.
Não gosta de trabalhar de madrugada, mora no bairro do Jaçanã e tem sua barraquinha de frutas há 9 anos em Perdizes. Gosta de música caipira e de um belo prato de arroz, feijão e bife.
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