Personagens da Noite – Os Entregadores Fantasmas

Fotos: LEANDRO FURINI | Texto: JOE BORGES 

Os entregadores de pizza são figuras conhecidas desde a antiguidade, trazendo alegria e esperança para milhares de lares ao redor do planeta. Geralmente a pessoa que deseja tal oferenda faz o pedido por telefone/ internet e então recebe a pizza em seus braços, mas nem sempre é assim que acontece.

Há alguns anos, em uma das praças mais boêmias da cidade de São Paulo, a Praça Roosevelt, uma prática incomum nos chamou a atenção, a dos fascinantes ciclistas entregadores fantasmas de pizza. Quem anda de skate no local, frequenta os teatros dos arredores ou simplesmente vai lá para degustar uma bebidinha doce, está bastante habituado com esses personagens. Como espectros noturnos e com agilidade sorrateira, esses ciclistas munidos de inúmeras pizzas nas costas, geralmente nos sabores mussarela e calabresa, rodeiam a praça anunciando tais iguarias por um preço bastante camarada, em torno dos dez reais. A prática se tornou tão popular na região central que o número de adeptos não pára de crescer. Curiosos com a peculiaridade desta atividade, resolvemos abordar um destes honestos trabalhadores para saber um pouco mais sobre o assunto e, claro, degustar uma boa e merecidíssima pizza de fim de noite.

Eis que lá estávamos, na noite fria, já na intenção da abordagem, sentados numa das bordas de concreto que rodeiam a praça, foi quando avistamos um rapaz magro, calmo e que não aparentava ter mais de 14 anos de idade, pedalando e anunciando seu serviço, munido de uma mochila parruda e devidamente servida de quentinhas pizzas recém-saídas do forno. Abordamos o garoto, que tinha realmente a idade que aparentava e há dois meses vinha realizando o trabalhado de entregador na região. Ele, muito solícito, nos explicou que, em geral, duas pizzarias dominam as atividades ciclísticas itinerantes da região: a Pizzaria Corrado (para a qual trabalha) e a Pizzaria São Paulo (pioneira da prática). A sua pizzaria tem cerca de dez entregadores, todos numa idade bastante juvenil, e que trabalham em turnos pela região central e arredores . Eles não possuem uma meta a ser atingida, porém dependem do número de pizzas a serem entregues para ganhar seu suado dinheirinho, visto que seu trabalho funciona com comissão. Uma das questões que nos intrigou fortemente foi se havia competição entre pizzarias nesse fascinante segmento, mas ele nos garantiu que não, elas co-existem em paz e harmonia. Realmente a prática gerou fãs incondicionais, o rapaz nos disse que já chegou a vender 55 pizzas em um dia, realmente um número impressionante, mas não tanto quanto o de seu irmão mais velho, que afirma ter quebrado o recorde sulamericano de entrega de pizzas, com 80 no mesmo dia. Só de observar o número de caixas de pizza vazias abandonadas ao longo da praça, podemos botar uma fé que esse número é muito possível mesmo. Depois da sincera conversa com o pequeno trabalhador, pagamos por nossa pizza e a degustamos com muito prazer, realmente uma baita iguaria de qualidade indubitável. De nossos lugares, observamos pelo menos mais uns quatro garotos fazendo entregas bem-sucedidas noite adentro, com inúmeros adeptos aproveitando a situação. É bastante gratificante ver que essas pizzarias acabaram por atingir um “nicho de mercado” bastante significativo na região, e pelo que nos foi dito, é completamente exclusivo da região central (por enquanto). O número de pessoas que estão sentadas conversando, aproveitando a noite de bobeira na praça e que adorariam que a fada da pizza aparecesse como num passe de mágica é realmente significativo, e ainda mais por um preço tão acessível. De crianças a idosos, os entusiastas do ritual da pizza devem muito à esses personagens fantásticos da noite paulistana, os entregadores fantasmas.

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